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33% das mulheres sofrem assédio no trabalho

Na última segunda-feira (9/9), o coletivo Olga, think tank dedicado a discutir questões de feminilidade, divulgou os resultados de pesquisa inédita sobre assédio sexual em espaços públicos. Entre agosto e setembro, 7762 mulheres participaram do “Chega de fiu-fiu” e os resultados impressionam: 99,6% afirmam que já foram assediadas em espaços públicos. Elas já tiveram de ouvir, entre outros, cantadas como “linda”  (84% das participantes), “gostosa ” (83%), “delícia” (78%) etc.

Em texto publicado na ÉPOCA, Karin Hueck, jornalista que organizou o estudo, aponta a gravidade do assunto, o curto caminho que separa chamar a mulher de “linda” e partir para o abuso físico:

O assediador parte de um princípio: o corpo da mulher é visto como público, algo sobre o qual se pode opinar e, por que não, do qual pode se servir à vontade.

O VAGAS Profissões conversou com Karin. Ela vê comportamentos de assédio todos os dias.

“As cantadas e os assédios são cotidianos na vida de qualquer mulher, mas não é algo sobre o qual a gente costuma pensar muito. [Com a pesquisa,] Eu queria mostrar às outras pessoas que ouvir um ‘fiu-fiu’ ou um ‘gostosa’ não é algo legal porque essas ‘cantadas’ costumam ficar a um passo da agressão.”

Mas não é apenas na rua e na balada em que ocorrem incidentes de assédio. Cantadas no ambiente de trabalho já foram ouvidas por 33% das mulheres que responderam à pesquisa. Ou seja, de cada três mulheres no mercado de trabalho, uma já ouviu “cantada” de um colega, um cliente ou o superior.

33% das mulheres sofrem assédio no trabalho

Diferentemente dos demais ambientes onde o assédio é comum, o local de trabalho é especialmente nocivo devido à convivência constante do agressor e da vítima. Karin explica:

“As relações no trabalho são ainda mais delicadas porque envolvem duas pessoas que convivem todos os dias. E mais: se o assédio ficar constante ou intolerável, a vítima não vai conseguir se livrar da situação tão facilmente (afinal, trocar de emprego não é a coisa mais simples do mundo). A maior fragilidade que observo é com meninas jovens que acabam de entrar no mercado de trabalho. Há um comportamento generalizado, que observei em todos os lugares que trabalhei, de não levar esse perfil a sério, de citar constantemente a juventude da menina como um elemento a ser levado em consideração. E comentários como ‘além de bonita e jovem, é competente’. Sinto que o trabalho não é melhor ou pior do que outros ambientes em termos de quantidade de cantadas: as pessoas conversam e têm relações – e são assediadas – como em qualquer outro lugar. O que, se a gente for parar para pensar, é mais grave, porque supostamente o trabalho deveria ser um lugar imune a isso.”

Ao contrário do que é comum imaginar, o maior “algoz” no caso de assédio no trabalho não é um chefe direto ou um funcionário em cargo superior, mas sim o colega de trabalho.

33% das mulheres sofrem assédio no trabalho

Mas afinal, o que é assédio sexual?

Em 2009, o Ministério do Trabalho e Emprego lançou uma cartilha para definir o que é assédio e orientar as vítimas:

“O assédio moral e sexual no trabalho caracteriza-se pela exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e relativas ao exercício de suas funções.”

Oito anos antes da divulgação da cartilha, o assédio já constava no Código Penal brasileiro. É crime desde 2001. A pena é detenção de um a dois anos para quem praticar o ato. Segundo a legislação, assédio é:

“Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.”

Quando tratamos de assédio, sobretudo de cunho sexual, devemos considerar o limite entre o que é elogio e o que, de fato, caracteriza assédio. Karin distingue ambos de maneira objetiva:

“Acho que a principal diferença entre assédio e elogio é que o assédio costuma discutir o corpo ou a sexualidade da mulher – daí o ‘linda’, o ‘gostosa’ ou o ‘você é mulher para casar’. E o corpo e a sexualidade são assuntos profundamente íntimos, que ninguém tem direito de discutir em público. Elogio pode ser sobre muitas outras qualidades. Há tanta coisa para se elogiar numa mulher (e em qualquer pessoa, na verdade): a inteligência, a competência, a sensibilidade, o humor. Nesse sentido, um elogio não faz o mal que o assédio faz.”

Outra forma de agressão: assédio moral

O assédio moral é outra forma de agressão também bastante comum no ambiente de trabalho. Ela se esconde em atitudes do dia a dia e, muitas vezes, quase não é percebida pelos colegas. O site assediomoral.org define:

[Assédio moral] É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego.

Esta exposição se dá de diversas formas. Vai desde uma piadinha “inocente” que deixe o colega constrangido até um ato mais agressivo, como xingá-lo. Este comportamento se deve à necessidade de minimizar o outro para se sentir, em algum grau, superior. E ele é mais comum do que imaginamos.

Quer ver? Vamos a um breve exercício de dedução.

Visualize o cenário real dos nossos dias: aproximadamente 1% da população mundial tem traços similares aos de um psicopata. No ambiente corporativo, os executivos com tais traços somam 4% do total. Ou seja, no local de trabalho há proporcionalmente quatro vezes mais “malucos” do que fora. Diante deste panorama, não é difícil imaginar como são as relações profissionais, não é? (Tanto que já é bem difundido hoje, sobretudo nos EUA, o termo “office psychopaths”, ou “psicopatas de escritório”.)

Erica Isomura, profissional de RH da VAGAS, ressalta: comportamentos que trazem humilhação ao funcionário podem “gerar perda da autoestima e danos psicológicos e psicossomáticos”. Por isso, tanto para casos de assédio moral quanto de assédio sexual, o melhor remédio é buscar ajuda. Erica indica o que a vítima deve fazer:

“Em uma estrutura vertical, procurar o gestor. Caso este seja a causa do assédio, procurar o RH e relatar os fatos que têm gerado angústia e sofrimento. É sempre importante conhecer os direcionadores éticos da empresa; se houver um código de ética, ele deve ser consultado; se houver uma ouvidoria, ela deve ser utilizada. O importante é que a pessoa que se sente vítima de assédio não se cale.”

Portanto, se você acredita que sofreu assédio, denuncie.