Por Lívia Freitas
Você adora fazer pesquisas e resolver problemas. Ama o famoso “colocar a mão na massa” e busca cada vez mais conhecimento em uma determinada área ou função. E você também tem grandes sonhos: como qualquer pessoa, imagina-se numa carreira bem sucedida e reconhecida pelo seu trabalho. Aí vem o problema: você não quer ser chefe.
“Existe uma associação, principalmente na cultura brasileira, do sucesso profissional ligado aos cargos de liderança, relação de status e poder. Também ainda se liga muito altos salários aos cargos de gestores e diretores”, aponta Erica Isomura, Recursos Humanos da VAGAS. Nessa lógica, a única forma de ter uma carreira bem sucedida, bons salários e benefícios é conquistando um cargo de liderança, certo?
Errado.
Felizmente para aqueles que não têm perfil ou não gostam da ideia de gerir pessoas, tem surgido uma luz no final do túnel: a carreira em Y.
Neste artigo você verá:
Mas afinal, o que é isso?
Há não muito tempo, os profissionais só tinham um caminho possível de crescimento na empresa: o caminho linear. Isso significava que, ao atingir um nível sênior, você teria três escolhas: assumir uma posição de liderança (gestor, supervisor, coordenador etc.), ficar estagnado no seu atual cargo para sempre ou pedir demissão.
O problema desse modelo é que as pessoas que almejavam crescer e ganhar reconhecimento eram praticamente obrigadas a aceitar um cargo de gestão para conseguir seu objetivo. Mas existem diferentes perfis profissionais. As empresas então começaram a se dar conta que os esforços deveriam ser dirigidos para transformar um excelente técnico, por exemplo, em um excepcional especialista, dando a ele o mesmo reconhecimento de alguém que assumiu um cargo de gestão.
Esse é o conceito de carreira em Y. Neste modelo, o profissional tem a possibilidade de escolha: seguir uma carreira de gestão ou optar por ser altamente especialista em um assunto ou área. E claro, podendo desfrutar dos mesmos prestígios e reconhecimento independente de qual linha ele escolha seguir.
Erica ressalta que “para que o profissional se sinta à vontade em escolher a carreira em Y, a empresa precisa, de fato, oferecer igualdade nos benefícios para especialistas e generalistas. Esse também é o ponto que vai determinar o sucesso da implantação desse modelo na organização”.
Cenário atual
Os empregadores reclamam da falta de profissionais especializados no mercado. Segundo pesquisa da empresa ManpowerGroup, realizada em 2013, mais de 35% dos empregadores entrevistados disseram enfrentar dificuldade para preencher vagas devido à falta de talento no mercado. Ainda mais de 54% afirmaram que essa dificuldade afeta o seu negócio e a entrega para o cliente.
Do lado dos profissionais, já se foi a época em que as pessoas trabalhavam apenas para seu sustento. Hoje elas buscam cada vez mais realização e felicidade em seu trabalho. Sendo assim, o conceito de carreira em Y pode atender às duas pontas: reter profissionais altamente especializados como forma de sanar essa falta de mão de obra técnica e permitir que eles tenham realização em sua profissão, sem necessariamente serem obrigados a assumir uma função de gestão de pessoas.
Outra pesquisa realizada em 2012 pela consultoria de gestão de negócios Hay Group apontou que 40% das 246 companhias estudadas já oferecem a possibilidade de carreira em Y. O resultado mostrou ainda os seguintes dados:
Quem já fez essa escolha
Formada em Engenharia Elétrica pela Poli-USP e com mestrado em Sistemas de Potência, Cristiane Toma já atua no setor elétrico há 11 anos. Hoje trabalha na empresa EDP do Brasil com Planejamento Energético.
Cristiane não gosta do simples. Apaixonada por encontrar soluções para problemas, para ela complexidade é sinônimo de motivação. “Sempre gostei de estudar muito para ter conhecimento técnico e possuo muita bagagem da minha área [Energia]. Especialista é um nível diferenciado e tenho os mesmos benefícios de um cargo de gestão. Mas se na minha empresa não tivesse a opção de carreira em Y, eu buscaria assumir um posto de liderança”.
Há três anos como especialista na empresa atual, Cristiane diz que essa escolha foi muito natural, pois sempre gostou de colocar a mão na massa e vê essa opção de carreira como uma tendência devido à forte demanda de profissionais qualificados e à necessidade de reter esses talentos.
Conheça as principais características de um especialista
- Foco em resultado do processo, pesquisas e descobertas;
- Conhecimento específico, alta especialização em um assunto ou área;
- Crescimento com maior liberdade e autonomia em sua função e em seus projetos;
- Líder, mas sem gestão de pessoas;
- Motivado pela alta complexidade e solução de problemas;
- Recebe os mesmos benefícios e reconhecimentos de um cargo de gestão.