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Do Comando Vermelho a coordenador do AfroReggae

Por Fabiola Lago

Chinaider alerta: "o RH do crime está sempre de portas abertas, cheio de vagas"

Chinaider alerta: “o RH do crime está sempre de portas abertas, cheio de vagas” (Foto: Rogério Montenegro)

Ele gerenciava cinco unidades de negócios, cerca de 200 pessoas entre seniores, plenos e assistentes. Como era um negócio de risco, tinha segurança próprio e em todas as filiais. Seu estilo de gestão era do chão da “fábrica”, de perto, mas também paternalista, envolvido com toda a comunidade no entorno das empresas. Tinha uma renda de R$ 40 mil por mês, mais R$ 50 mil de bônus por projetos especiais. Não por acaso, foi sequestrado cinco vezes.

Há cinco anos, Chinaider Pinheiro, 38 anos, trocou “poder e glamour” para trabalhar como coordenador do projeto de empregabilidade da ONG AfroReggae, a convite de José Junior. Desde então, o ex-chefe de tráfico do Comando Vermelho, 10 anos somados de detenção em Bangu III, já fez parcerias com mais de 50 empresas no Rio de Janeiro e conquistou 1500 empregos para egressos do sistema prisional. Ele sabe da importância de uma segunda chance. E agora quer conquistar RHs das empresas do estado de São Paulo para o mesmo fim: dar oportunidade a milhares de pessoas que já cumpriram suas penas e querem recomeçar suas vidas.

“O RH do crime está sempre de portas abertas, cheio de vagas. Se as empresas não abrirem suas portas para esses egressos, o retorno é quase certo. É contribuir para a violência.”

Hoje, Pinheiro está no quinto semestre de Direito e pretende trabalhar com a população carcerária depois de formado. Comemora a primeira parceria assinada em São Paulo com a rede Riachuelo: serão 50 vagas para mulheres que cumpriram suas penas.

Chinaider avalia que ainda existe muito preconceito, mas acredita que é imprescindível esclarecer a importância do projeto de empregabilidade para combater a violência. O AfroReggae dá todo apoio nesse sentido: faz acompanhamento com assistente social, monitora o desempenho, ouve a empresa empregadora periodicamente e dá todo o suporte necessário. A taxa de sucesso é altíssima.

“Essas pessoas já cumpriram suas penas, foram punidas e agora precisam ser incluídas na sociedade, desfrutar de cidadania. Muitas são casadas, possuem filhos, pais, irmãos e precisam sustentar a família”, argumenta.

A volta por cima

Chinaider e família (Foto: Rogério)

Chinaider e família (Foto: Rogério Montenegro)

Chinaider entrou no crime aos 21 anos, para proteger o irmão mais novo, usuário de drogas e membro do tráfico. No processo, começou a ajudar a contabilidade das bocas de fumo do Comando Vermelho, na comunidade de Vigário Geral. Subiu rápido na hierarquia. Passados dois anos, pensava em sair, principalmente por conta do apelo dos pais. Fez prova para fuzileiro naval, passou. Poucos dias antes de iniciar a nova carreira, foi detido por sequestro. Perdeu a oportunidade de emprego e também a liberdade.

Foram dez anos comandando operações de dentro do presídio. “Entrei pequeno, saí pós-graduado. O sistema prisional não recupera ninguém, ao contrário”, sentencia. Costuma se referir a José Junior como “chefe”.

Hoje, vibra com cada egresso que consegue uma nova chance. As famílias vêm agradecê-lo pessoalmente e não raro, o dinheiro do primeiro salário é dedicado a um presente para ele, que recebe constrangido. O sonho agora é formar-se em Direito e especializar-se como advogado criminalista.