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Dominar a língua portuguesa é fundamental

Por Lucia Helena Corrêa

“Escrever é fácil. Você começa com letra maiúscula e termina com um ponto. No meio, você coloca as ideias”
(Pablo Neruda)

A ironia da frase atribuída ao poeta chileno faz sentido: escreve-se mal em todos os idiomas – Espanhol, a língua de Neruda, Alemão, Chinês, Francês, Inglês, Italiano, Japonês e, para citar apenas os mais falados mundo afora, Português, reconhecido como um dos gramaticalmente mais complicados.

E é assim pelo simples fato de que o bom texto não depende, tão somente, da ortografia e sintaxe irretocáveis, opina Danny Reis, responsável pela revisão de todos os conteúdos dos cursos de pós-graduação a distância da Universidade Estácio de Sá. “Entre outras virtudes, ele precisa ser claro, objetivo, preciso, coerente, conciso, e, se possível, interessante!”, opina o jornalista Manrico Patta Neto, revisor das publicações da Editora Abril.

“Em outras palavras, interessante é o texto que deve ser capaz de seduzir e reter o leitor logo nas primeiras linhas”, adverte Christopher Vogler, autor do livro Jornada do Escritor – Estruturas míticas para escritores (Editora Nova Fronteira), mas que pode ser da maior utilidade para qualquer profissional cujo desempenho dependa do domínio da comunicação escrita.

Mas quem são, afinal, os eternos reféns do texto? Advogados, publicitários, jornalistas, revisores, nas redações dos veículos de comunicação, editoras (livros) ou empresas em geral e encarregados da comunicação com prospects, clientes, fornecedores e parceiros em geral.

Também aquele que, independentemente da profissão que exerça, algum dia terá de escrever uma bela carta, na hora de se candidatar a uma vaga. E, com certeza, o diretor ou gerente de RH que, com certeza, vai julgá-lo pela correção e estilo do texto redigido.

Causa perdida

“Vira e mexe, os juízes indeferem reclamações somente porque se irritam com a incorreção ou pobreza das petições redigidas pelo advogado”, acautela-se a advogada trabalhista Bárbara Fernanda Napoleão, que não para de estudar Português, a fim de atualizar-se e jamais escreve sem o apoio de uma boa Gramática e do “Aurélio”, sempre sobre a mesa de trabalho.

“Nunca me conformaria em perder uma causa, somente porque me expressei mal. Nem eu nem meus clientes merecemos isso”, descarta a jurista. Os casos mais comuns, segundo ela, além de erros grosseiros de ortografia, são os textos de duplo sentido, que dão margem a dúvidas na interpretação dos papéis e julgamento por parte do juiz.

Na Editora Abril, depois de andar pela Editora Globo, onde, durante nove anos, cuidou da qualidade do texto da Globo Rural, Manrico se confessa um músico frustrado. Mas, jornalista por formação, hoje de volta à antiga casa na condição de revisor, leva o trabalho a sério. No começo, revisava várias revistas do grupo – Exame, Nova, Info Arquitetura & Construção, Manequim, Você S/A, Claudia, Runner’s e outras

Agora, dedica-se exclusivamente à VIP, revisando o material já editado. “Leio uma vez na print, tiro as dúvidas com o redator-chefe, emendo tudo no computador, imprimo, releio a matéria e devolvo para o redator-chefe. Daí, ele dá mais uma lida e passa para o diretor de redação finalizar o trabalho”, descreve Manrico, que questiona a decisão de algumas publicações, fora da Abril, de eliminar a “importantíssima” figura do revisor.

Os ingredientes do mau texto

A essencialidade desse profissional, nas editoras em geral, se explica em função da escrita deficiente, na maioria dos casos. “Acho que a pobreza do texto começa com o ensino medíocre nas escolas brasileiras e ganha volume com a falta de leitura de bons livros. Fora isso, há o baixo nível impressionante das redes sociais, onde as pessoas agora vivem penduradas. Nelas, 99% do que se lê na web são absurdos, tanto do ponto de vista gramatical e informativo”, critica Manrico.

Os maiores problemas, no texto jornalístico e em geral, segundo o revisor, dizem respeito ao vocabulário, uso de acentuação, vírgula, crase e hífen, repetição de palavras, concordância gramatical, regência verbal e nominal, confusão entre objeto direto e indireto.

Além da correção, o que para Manrico é fundamental na hora de escrever, é saber a quem se dirige o texto, de modo que ele carregue as palavras e as orações adequadas ao perfil do leitor. “Não dá para escrever texto publicitário usando o vocabulário de Guimarães Rosa e nem narrar partida de futebol usando o texto de Machado de Assis”, brinca o revisor da Editora Abril.

Bom Português vira ferramenta de venda

Não é por acaso que muitas empresas, com a finalidade de melhorar o desempenho do setor de vendas, vêm investindo na formação e treinamento das equipes na arte da argumentação, na hora de se dirigir ao cliente potencial. Em bom Português, no estudo do idioma, de maneira que possam melhorar o poder de persuasão das peças de venda – dos e-mails às cartas.

Há oito anos, uma das primeiras a lançarem mão dessa “ferramenta” de venda foi a Triad Systems. Especializada em produtos de software e consultoria sob medida para operadoras de serviços de telecomunicações, ela organizou, com o apoio de profissionais especializados, oficinas de texto dirigidas aos colaboradores em geral, em especial aos vendedores.

“Muitos deles, embora dominando os conhecimentos técnicos, a respeito do produto ou do serviço, têm dificuldade de verbalizar, de escrever a respeito, perdendo capacidade de persuasão e convencimento”, argumenta o presidente da empresa Sílvio Rodrigues.

Com quantos paus se faz um bom texto?*

  • Estude sempre! Atualize-se sobre a Gramática;
  • Não abra mão da consulta às gramáticas e dicionários. Se surgir a dúvida, não se arrisque;
  • Leia bastante. Bons livros, claro;
  • Escreva muito. O hábito melhora a prática;
  • Pare com o internetês! Se vai escrever na internet, escreva direito;
  • Informe-se sobre o assunto sobre o qual pretende escrever;
  • Prefira a forma direta (quem ou o que, quando, como, onde e porque) e frases curtas, o que reduz as chances de um erro de concordância;
  • Releia, de preferência em voz alta, aquilo que escreveu e refaça o que achou que não ficou bom. Se você próprio não gostou, imagine o leitor;
  • Converse com pessoas que falam e escrevem bem.

* Sugestões dos revisores Danny Reis e Manrico Patta Neto