No dia a dia, seja dentro ou fora da empresa, ouvimos frases racistas. Para alguns, elas estão tão arraigadas na cultura brasileira que, por vezes, não percebemos o preconceito por trás. Mas considerá-las normal é um erro, pois essas palavras podem ofender e ferir muitas pessoas e vai contra a inclusão e diversidade.
Aliás, a Lei 14.532/2023 iguala o crime de injúria racial ao racismo. Assim, a injúria se torna um crime inafiançável e a pena que era de 1 a 3 anos de prisão passa para 2 a 5 anos. Além de multa.
Vamos à explicação: racismo é uma ofensa a um grupo ou coletividade, seja pela religião, cor e país, estado ou cidade de origem. A injúria racial é uma ofensa a uma pessoa específica, ferindo sua dignidade seja pelas mesmas questões do racismo. E geralmente a injúria está associada a palavras, expressões ou frases…
Dito isso, vamos nos próximos parágrafos explicar, passo a passo para você como são formadas algumas frases racistas. Acompanhe e entenda porque você não deve fazer uso dessas frases.
15 frases racistas que você pode parar de usar
Separamos 15 frases e explicamos o porquê elas são racistas. A partir desse conhecimento, você entende o motivo pelo qual não deve usá-las e pode efetuar essas mudanças no seu dia a dia.
Confira!
“Eu até tenho amigos negros”
Você tem amigos, ponto final. Da forma como é dita, essa frase soa como se pessoas negras não pudessem ter amigos por alguma razão negativa.
Imagine você, na empresa, em um curso sobre diversidade, tema que está em alta. De repente, para mostrar não haver discriminação de sua parte, você solta essa frase. Errou!
Como deve ser dita: Eu tenho amigos.
“Essa frase denigre o texto”
Ao estudar a etimologia da palavra “denegrir”, vamos descobrir o racismo da frase. O termo tem origem no latim “denigrare”, que em outras palavras significa “tornar escuro”. E daí vem a pergunta: por que tornar algo escuro, como o termo “denegrir” sugere, tem significado negativo? Aí mora o racismo da expressão.
Como deve ser dita: Essa frase difama o texto
“Ele é uma pessoa de cor”
Não existe cor neste contexto. Existe a raça das pessoas. Aqui, chamamos atenção para o seguinte: você precisa fazer referência a uma pessoa tomando como base sua raça? A resposta, aqui, é direta: não. Cuidado: isso também é uma forma de preconceito.
Como deve ser dita: A frase em si não deve ser parte do dia a dia, afinal características físicas não devem ser ponto de referência para se dirigir a alguém.
“Ele é da cor do pecado?”
Isso não é um elogio. Sabe por quê? Ser negro era considerado pecado antigamente: era isso que justificava a escravidão.
Como deve ser dita: Ele é preto ou ele é da raça preta (aqui, usamos o termo designado pelo IBGE em se tratando de raças).
“Coloca ali no criado-mudo.”
Aquele móvel baixo que normalmente fica na cabeceira da cama tem esse nome porque, na época da escravidão, os escravos ficavam nesse mesmo lugar segurando as coisas para os “senhores” — sem fazer barulho para não atrapalhar. Por esse contexto, “criado-mudo” é uma palavra para tirarmos do vocabulário.
Como deve ser dita: Coloca ali na mesa de cabeceira
“Vamos esclarecer uma coisa”
Vamos fazer uma reflexão: por que “denegrir” se refere a algo negativo e “esclarecer”, ou seja, tornar claro, se refere a algo positivo e que trará mais consciência de determinada situação?
Assim como devemos excluir “denegrir” da nossa fala, “esclarecer” também deve ser deixado de lado.
Como deve ser dita: Vamos explicar uma coisa ou Vamos evidenciar uma coisa.
“Lá vem o chefe com seu humor negro”
Mais uma vez a palavra “negro” traduz uma característica negativa. Humor negro é aquele humor criado sobre situações dolorosas para algumas pessoas ou sobre temas delicados, muitas vezes indo além do normal, no mau sentido.
Como deve ser dita: Lá vem o chefe com o seu humor peculiar.
“Ela parece que nasceu com o pé na cozinha”
Quando você diz que alguém tem um pé na cozinha, isso remete à época em que as cozinheiras eram as negras escravas e suas atividades eram restritas aos serviços domésticos. Muitas vezes, essas mulheres só podiam frequentar a cozinha das casas, sem acesso aos demais cômodos. Por esse motivo, essa expressão deve ser retirada do nosso dia a dia.
Como dever ser dita: Ela é uma ótima cozinheira, caso o que você queira dizer é que a pessoa tem talento nessa área.
“Aquele cara é muito chato. Acho até que ele deve ser a ovelha negra da família”
Não, ovelha negra, não. Mais uma vez é a ideia de que negro ou preto é sinônimo de algo que não é bom, que se destaca negativamente.
Ele pode ser uma pessoa de comportamento ou de anseios diferentes do restante da família dele. E ser diferente não é ruim.
Como deve ser dita: Aquele cara é muito chato. Acho que ele deve ser diferente do resto da família.
“Olha o cabelo dela! Quando não está preso, está armado”
Há algum tempo, cantava-se nas ruas uma música que falava da “negra do cabelo duro, que não gosta de pentear”. Não, o cabelo é crespo. E mencionar “preso” e “armado” faz com que as pessoas associem o negro ao crime, à violência. Crime é fazer esse tipo de comentário, por mais que você tenha ouvido essa frase.
Como deve ser dita: Essa frase deve ser totalmente retirada, pois além de racista ela faz referência a alguém por conta de suas características físicas. Como vimos anteriormente, isso não deve ser feito.
“Ele é um escravo da área de recursos humanos”
Vamos por partes: se é um escravo, seja de qualquer área que for, há um problema na empresa. Seria o caso de a pessoa em questão estar sobrecarregada de trabalho ou de se dedicar de corpo e alma e por muitas horas do dia, se não as 24 horas, a uma função em um departamento?
Se sim, ele não é escravo, ele é uma pessoa com uma carga muito grande de trabalho Alguns especialistas explicam que repetir “escravo” para qualquer coisa esvazia o real sentido que a palavra tem e todo o triste contexto histórico que existe – e que deve ser ressaltado.
Como deve ser dita: Ele, que é da área de recursos humanos, está com uma sobrecarga de trabalho
“Aquela videoconferência parecia o samba do criolo doido”
Essa expressão talvez possa ser usada pelos seus colegas mais velhos, de outras gerações, em sua empresa. Ela foi criada por Sérgio Porto, jornalista, escritor e “pai” do personagem Stanislaw Ponte Preta.
Ela era o título de uma música que Porto criou para contar a história do Brasil. Mas ele misturava personagens, épocas e locais diferentes. Uma bagunça, algo “que um criolo” fazia. Mais uma discriminação aos negros.
Como deve ser dita: Aquela videoconferência estava confusa.
“Parece que esse relatório de vendas foi feito nas coxas”
O que era feito nas coxas eram as telhas de argila. Nas coxas dos escravos. Feito nas coxas seria um trabalho de escravo, de negro — como sendo algo sem valor ou qualidade. O relatório de vendas pode ter sido malfeito, pode estar incompleto, mas não feito nas coxas.
Como deve ser dita: Parece que esse relatório de vendas está incompleto.
“Na festa de fim de ano da empresa tinha comida a dar com o pau”
Não! “Dar com pau” remete à violência que os negros sofriam nos navios que os traziam para o Brasil (navios negreiros).
Muitos, durante a viagem, escolhiam morrer a servir nas mãos do escravizador. Acabavam ficando sem comer, uma greve de fome deliberada. Para que eles comessem alguma coisa, havia um “pau de comer”, criado para jogar angu e outros alimentos pela boca.
Como deve ser dita: Na festa de fim de ano da empresa havia comida em abundância ou em grande quantidade.
“Ela é uma mulata bonita”
A expressão “mulata” ou “mulato” é bastante comum, mas pouca gente sabe que ela se refere à mula, que é um animal que nasce do cruzamento entre jumento e égua. Na época da escravidão, muitas escravas eram abusadas pelos patrões. Seus filhos – de mãe negra e pai branco – eram chamados de mulatos. Não é uma boa forma de se referir a alguém, concorda?
Como deve ser dita: Ela é uma pessoa bonita
“Pensa que eu sou tuas negas?”
Se a gente parar para pensar pode logo desconfiar que essa expressão é extremamente racista. E é mesmo. Ela surgiu na época da escravidão, quando, as mulheres negras eram consideradas “propriedades” dos seus senhores, que se achavam no direito de fazer tudo com elas – inclusive estupros, assédios e agressões.
Como deve ser dita: Pensa que eu sou quem?
“Você foi promovido! Parabéns! Que inveja branca!”
Ao contrário da “lista negra”, a “inveja branca” indica algo positivo (mais uma vez, a mesma relação entre “denegrir” e “esclarecer”). Ou seja, o que é associado à cor branca é visto como algo positivo – o que reforça a associação entre “preto” e comportamentos negativos.
Como deve ser dita: Você foi promovido! Parabéns!
“Amanhã é dia de branco.”
Essa expressão maldosa associa o “dia de branco” a um dia de trabalho, como se apenas os brancos trabalhassem.
Como de ser dita: Aqui o ideal é excluir a expressão como um todo.
“Ele é um vendedor de meia tigela.”
Quando os negros que faziam trabalho forçado nas minas de ouro não alcançavam as “metas”, recebiam apenas metade da tigela de comida… Não precisa dizer mais nada, certo?
Como deve ser dita: Ele é um vendedor que não alcança as metas
“A coisa tá preta, não vendemos nada este mês”
Novamente, a expressão associa a palavra “preta” a uma situação ruim.
Como deve ser dita: A coisa está ruim, não vendemos nada este mês.
“Que serviço de preto!”
Mais do mesmo: a frase que indica uma tarefa mal feita também vem da associação ao trabalho que seria realizado pelo negro.
Como deve ser dita: Que serviço mal feito!
Combata o racismo de todas as maneiras!
Vimos acima algumas frases racistas que precisam sair de sua vida e da vida das demais pessoas.
Para vencer esse racismo descarado ou estrutural, as empresas estão mais atentas e promovem o chamado “letramento” sobre diversidade, explicando os principais termos e conceitos.
E não deve ser uma ação restrita à empresa em que você trabalha. O combate ao racismo se dá em todos os lugares. Na sua família, no seu prédio, no seu bairro, na escola, e nos campos de futebol, por exemplo.
Na Espanha, recentemente, o jogador brasileiro Vini Júnior passou por uma situação assim. Torcedores do Valladolid penduraram um boneco, como se estivesse enforcado, durante um jogo contra o Real Madri. O boneco era uma alusão a Vini Júnior, do Real, que há muito tempo vem sofrendo com ataques racistas. Em outras ocasiões e com outros jogadores negros brasileiros foram proferidas palavras como “macaco” e bananas jogadas para o campo.
Exemplos de ações como essas e de frases como as que vimos reforçam que o racismo deve ter suas estruturas implodidas o quanto antes. E o que você pretende fazer sobre isso?
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