por Heloisa Valente
Fugindo da tragédia do terremoto que devastou o Haiti, em 2010, e da instabilidade política e econômica do seu país de origem, muitos haitianos desembarcam no Brasil com a esperança de uma vida melhor. Segundo estimativas do Ministério da Justiça, 54 mil haitianos vivem no Brasil, distribuídos em Estados como Acre, Amazonas, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Desse total, mais de 20 mil trabalham legalmente.
E a ponte de contato com mercado de trabalho é feita, muitas vezes, por ONGs que acolhem esses imigrantes. Em São Paulo, a Missão Paz (da Paróquia Nossa Senhora da Paz) é uma das que tem esse papel. Por lá eles ficam alojados, participam de palestras e cursos de língua portuguesa e obtém ajuda para conseguir emprego. De acordo com a assessoria do local, há dois anos o setor que mais contratava essa mão de obra era o da construção civil. Mas, atualmente, a demanda tem sido para frigoríficos, serviços gerais e restaurantes.
A mediação para o trabalho que acontece na Missão tem a seguinte metodologia: os imigrantes assistem a uma palestra intercultural oferecida por voluntários onde são trabalhados conceitos culturais e trabalhistas para que eles possam entrar em contato com a realidade do país. Por outro lado, empregadores que querem contratar essa mão de obra também passam por treinamento com o objetivo de conhecer esses imigrantes. A partir daí, acontecem os encontros para entrevistas e contratações.
Rede de Hotéis
Os hotéis pelo Brasil têm sido fonte de emprego para esses imigrantes. As vagas são diversificadas e passam pela recepção, restaurante, cozinha, segurança, manutenção e governança (serviço geral e mensageiro). O InterContinental Group, que administra o Holiday Inn, entre outras marcas, conta com vários haitianos em seu quadro de colaboradores.
Em Belo Horizonte (MG), o Holiday Inn Savassi emprega cinco deles há quase um ano. Três trabalham nos serviços de cozinha e dois na recepção. Lara Tropia, gerente de recursos humanos, diz que eles são profissionais esforçados e atenciosos. “O hóspedes querem bom atendimento. Gentileza e simpatia são habilidades necessárias e isso eles têm de sobra. Por aqui, são constantemente elogiados por isso”, afirma.
Lara destaca que os haitianos são comprometidos com o trabalho, uma característica, segundo ela, essencial a qualquer colaborador. Mas no caso deles isso se sobressai: “não são de faltar ou reclamar de tarefas”, conta. “Acho que eles veem de uma realidade tão sofrida que por aqui acham um porto seguro”, observa.
A gerente explica que para serem contratados eles passam por entrevistas idênticas às feitas para qualquer novo colaborador, onde são analisadas competências e habilidades distintas para o cargo e nível de estudo. “No caso dos haitianos, o conhecimento do português é essencial. Mesmo que não falem perfeitamente, a compreensão tem que ser precisa”, diz. E se tiverem o francês (idioma que muitos falam além dos dialetos) é um diferencial a mais que é sempre bem-vindo em uma rede hoteleira internacional.