Home > Notícias > Miranda Priestly, uma chefe que ninguém merece

Miranda Priestly, uma chefe que ninguém merece

Personagem continua impressionando anos após lançamento de filme

por Josafá Crisóstomo*

Quem nunca conheceu um(a) chefe cuja liderança fosse um tanto assertiva e dura demais? Ou ao menos, quem já não ouviu falar naqueles protótipos de grandes chefões cujo comportamento se pauta pela impiedade, frieza, precisão e até crueldade? Pois bem, é esse exatamente o perfil da editora megera Miranda Priestly (Meryl Streep), no filme O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada),

Anne Hathaway interpreta Andy, uma recém-formada jornalista do interior, que consegue um emprego na famosa revista de moda “Runway”, para trabalhar como assistente de conceituada editora e, a partir de então, descobre muita coisa, sobretudo, algo que sempre estão lhe repetindo: de que milhares de outras jovens gostariam de estar no seu lugar. Por quê? Porque o mundo da moda é excessivamente sedutor e as pessoas se sujeitam a muita coisa dentro dele.

Tudo na vida da assistente passa a ser mera circunstância para além do seu cargo e por conta disso, o que as pessoas passam a ver essencialmente na história contada são as maldades da vilã, tanto que, mesmo após muitos anos do seu lançamento, tal personagem de Meryl Streep é até hoje um conhecido meme que circula com frases insólitas de perseguição e autoritarismo, em feeds de redes sociais como o Facebook.

O sucesso da personagem autoritária se deve também ao fato de que no livro homônimo (de 2002), a autora Lauren Weisberger contou muito do que de fato lhe aconteceu na vida real, quando ela trabalhou com a poderosa Anna Wintour, editora da Vogue. A escritora, como a personagem Andy, pretendia trabalhar na conceituada New Yorker, mas se sujeitou a ser capacho desta editora que o mercado vê como diabólica – com seus caprichos e expedientes obtusos, tais como a obtenção de favores pessoais.

No filme aprendemos que o mundo da moda pode ser muito opressivo, devido à concorrência atroz e ao esvaziamento das relações. No entanto, percebe-se que na vida real, e em qualquer área, também há quem admire cargos de chefia em que se prepondera essa filosofia pitbull que esmaga quem se oponha aos seus interesses.

Contudo, mais cedo ou mais tarde, sempre é possível perceber que pessoas como Miranda estão a um passo de desenvolver o conhecido transtorno de personalidade antissocial, isso mesmo, são quase psicopatas. Logo, quem pauta seu ideal de relacionamento no mundo do trabalho nesses tipos de exemplos funestos está se distanciando de alcançar o que há de mais desejável em termos de gestão de pessoal, contemporaneamente: a horizontalidade das relações.

Nesse tipo de gestão, há solução de conflitos, espaço saudável para a controvérsia, busca de soluções consensuais e ainda o desapego de ideias preconcebidas ou primárias dentro do exercício dialógico. Afinal, é sempre melhor recomeçar. O respeito e a liberdade próprios como princípio de regulação da ação pessoal é a receita de sucesso para qualquer empreitada.

Serviço
O Diabo Veste Prada. (The Devil Wears Prada), 2006, Comédia dramática, 110 min. Direção: David Frankel. Elenco: Adrian Grenier, Anne Hathaway, Emily Blunt, Gisele Bündchen, Meryl Streep, Stanley Tucci, Tracie Thoms

*professor, jornalista e crítico de cinema