Por Paulo Verano
Vejamos os nomes destes cursos de extensão, especialização e pós-graduação, oferecidos hoje em dia por faculdades e universidades de primeira linha: Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde, Administração Pública e Governo, Ciências do Consumo Aplicadas, Comunicação Escrita em Empresas, Contabilidade Aplicada às Ciências Jurídicas, Design Estratégico, Direito Ambiental e Gestão Estratégica da Sustentabilidade, Gestão de Vendas e Relacionamento, Liderança Estratégica de Negócios e Pessoas, Marketing de Moda, Marketing Esportivo, Marketing Político e Campanhas Eleitorais, Psicologia e Saúde, Psicologia Hospitalar, Teatro para Facilitar a Comunicação, Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação, Tradução de Textos da Atualidade do Português para o Inglês.
O que querem dizer esses cursos, oferecidos por escolas conceituadas como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Pontifícia Universidade Católica (PUC), a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e por tantas outras com algumas variações no nome?
O médico, com quem antigamente tínhamos contato direto e sabíamos o nome, que era “o médico da família” e tinha a sabedoria de quem conhece o todo, já há algum tempo se divide em uma infinidade de especializações, da cabeça aos pés. Mas não é só: ele também precisa saber de administração. O administrador de empresas, por sua vez, precisará entender no detalhe sobre os hospitais e sistemas de saúde se atuar nessa área. Se for se aventurar (no melhor dos sentidos) na política, deverá entender de gestão e políticas públicas, e isso valerá para todos os ramos em que atuar durante sua carreira: após a graduação em Administração de Empresas, acumulará novos conhecimentos, teóricos e práticos, em tantas profissões quantos segmentos atuar.
O advogado que entende de tudo, por direito adquirido, também não existe mais: além dos vários ramos jurídicos, terá de saber de meio ambiente e sustentabilidade se for atuar nessa área, e pelos mesmos motivos que o contador precisa entender de ciências jurídicas, precisará ele próprio entender de finanças. O educador precisará ser amigo da tecnologia. O profissional de TI, amigo da educação.
Isso valerá para tudo, como os cursos que levantamos por amostragem deixam claro. Em nossa carreira, seja em que área ou áreas atuarmos, precisaremos conhecer muito bem sobre nossa profissão, mas o domínio da régua e compasso precisará se ampliar em direção aos segmentos em que nos inserirmos. Mas não só.
Precisaremos saber administrar nossa vida pessoal e profissional como administradores.
Cuidar de nossas finanças e as das empresas de que nos tornarmos colaboradores com o zelo de um contador.
Desenvolver ações, produtos e serviços que não firam o meio ambiente, nem as leis que o gerem.
Escrever com correção, criatividade, clareza e objetividade: do e-mail ao contrato, do projeto ao memorando.
Se formos designers de produtos, precisaremos também ser estratégicos e vendedores, além de integrados ao seu conceito global.
Se formos homens e mulheres de marketing, precisaremos entender de esporte, moda, política, cultura, construção civil ou o que mais for necessário para o nosso negócio.
Precisaremos ser sempre éticos e, como os psicólogos, nos colocarmos no lugar do outro.
Poderemos fazer teatro ou redação criativa para nos comunicarmos melhor, sem nos esquecermos de que, sejamos o que formos, também seremos especialistas em tecnologia e língua inglesa, mesmo que apenas para nosso uso.
Se entendermos tudo isso, saberemos, inclusive, que não existe mais isso de “apenas para nosso uso”. Pertencemos a uma nova era, de profissionais altamente especializados e, ao mesmo tempo, que não descuidam dos assuntos gerais: generalistas sem serem genéricos, especialistas sem serem específicos.
É desse caldo, tão quente quanto estimulante, que emerge o novo profissional que as organizações tanto procuram.