Por Lucia Helena Corrêa
Conhecimentos técnicos aplicados a negócios ajudam muito na construção bem sucedida de uma carreira. Hoje em dia, não se fala de outra coisa. Igualmente importante é o domínio dos processos de gestão, capacidade de produção e comunicação em regime cooperativo e, dependendo da função, espírito de liderança, proatividade e aptidão para gerenciar situações de crises. Mas, fora de dúvida, a qualidade do trabalho e o sucesso profissional dependem, bem antes, de talento. Ou seja: quem faz aquilo de que gosta faz melhor!
Não é por acaso que se disseminam, inclusive no Brasil, as metodologias que, aplicadas a testes, ajudam os profissionais de diferentes áreas do conhecimento a traçarem, com precisão cirúrgica, o próprio perfil – os chamados testes PDA (Personal Development Analysis, nomenclatura criada pela PDA Internacional, ou, em bom Português, o Teste Psicométrico Comportamental).
Qual a diferença para os antigos testes vocacionais? Os PDAs vão muito além da simples indicação da profissão X para a pessoa Y. Eles definem a função na qual cada pessoa estará à vontade e, consequentemente, terá melhor desempenho. No hospital, por exemplo, o médico pode ser diretor, administrador, clínico, cirurgião, trabalhar no consultório ou na emergência. Tudo depende da aptidão.
“A chave para gerenciar outras pessoas, de maneira efetiva, é conhecer-se a si mesmo. Quanto mais você se conhecer, melhor poderá relacionar-se com os demais, a partir de uma relação de confiança e segurança quanto a si próprio”, afirma Hendrie Weisinger, da PDA Internacional, que reivindica a criação da nomenclatura.
O consultor recomenda o PDA aos profissionais interessados em conhecer as próprias fortalezas e debilidades, a fim de se colocarem em situação mais confortável na hora de se candidatar a uma vaga, mudar de função e, principalmente, melhorar a relação com os pares e colaboradores.
Outros usuários dos testes PDA, que custam, em média, R$ 200 por pessoa, são as consultoras que assessoram as empresas e instituições no desafio de recrutar e selecionar o profissional certo para cada cargo. O uso da ferramenta se justifica: o PDA pode fornecer rapidamente a mais precisa descrição do perfil comportamental de cada pessoa, apontando, por exemplo, estilo de liderança, capacidade de análise, habilidades comerciais, nível atual de motivação, principais habilidades e fortalezas, áreas a desenvolver etc.
“Com base no relatório, após a aplicação do questionário, o profissional pode dirigir a busca pela vaga, apresentar melhor desempenho nas entrevistas de trabalho, remarcar e ressaltar as próprias habilidades e fortalezas. Além disso, sentindo-se mais seguro, poderá conseguir emprego de acordo com as características ‘naturais’ que apresenta”, argumenta Jorge Matos, presidente da ETALENT, sistema que também utiliza testes PDA e está no mercado há mais de 30 anos no mercado. A ETALENT aplicou sua metodologia — MyEtalent — à ferramenta DISC e, assim, desenvolveu entre 2007 e 2012 a Pesquisa Talento Brasileiro, que, em parceria com a VAGAS Tecnologia e a Affero, envolveu 1,3 milhão de pessoas de todas as regiões do país.
Inédito no mercado nacional, o trabalho, apresentado durante o HSM ExpoManagement 2013, traz análises surpreendentes a respeito do comportamento dos profissionais brasileiros. Ela mostra, por exemplo, “que o medo de pessoas poderosas, que detêm poder político, econômico ou social, está custando caro ao Brasil, na medida em que a subserviência é fator limitante do desenvolvimento de qualquer país, conforme comprova o estudo do pesquisador holandês Geert Hofstede. As pessoas precisam enfrentar os poderosos. Confrontar. Não apenas no cenário político, mas, também, no econômico e social”.
O trabalho também aponta para o fato de que a nossa comunicação é prolixa, pouco direta e sem objetividade. Nesse contexto, as pessoas dominantes (que se arriscam mais) têm os maiores salários, e as mulheres (em geral, mais adeptas da estabilidade) tendem a ganhar menos, pois privilegiam a família, a segurança e a manutenção do status quo. Do ponto de vista comportamental, o Brasil é um só, na medida em que não se percebem diferenças entre as diferentes regiões.
Jorge conta que a ideia da pesquisa surgiu da premissa de que quando a pessoa gosta do que faz, ela tende a estudar mais e a praticar mais.
“Dessa forma, o talento atua como elemento impulsionador do processo de aprendizagem e do desenvolvimento de habilidades, o que normalmente é desconsiderado pela sociedade e, muitas vezes, até mesmo pelos próprios indivíduos.”
A Pesquisa Talento Brasileiro pretende ampliar o entendimento sobre a natureza comportamental dos brasileiros e o impacto dela nas pessoas, famílias, escolas, empresas e governo. Nesse sentido, o estudo trabalhou com diversas questões cujas premissas consideram a formação do povo brasileiro e favorecem o olhar e a análise dos variados talentos.
Jorge argumenta que os achados da pesquisa — que foi transformada em livro e que tem as primeiras páginas disponíveis neste link — dão à sociedade em geral a oportunidade de perceber que a base do sucesso das pessoas está dentro delas, no que fazem de melhor.
“Se bem estudado, o talento pode ser capaz de melhorar o desempenho do país em escala mundial, na medida que, cada vez mais, brasileiros poderão contribuir para o desenvolvimento sustentável da humanidade.”