Por Flávia Pegorin
Não é uma situação fácil, convenhamos. O rapaz ou a moça, ainda universitários, procuram e encontram aquela sonhada vaga no mercado de trabalho. Aprenderão bastante, sim, mas também deverão encarar horas de tarefas menores e serviços que nenhum sênior quer fazer (e, provavelmente, uma boa dose de sadismo dos funcionários mais antigos que teimam em “sacanear” o estagiário). Funcionários dessa casta precisam de muita fibra para seguir em frente até o promissor dia da efetivação. Mas abraçar vagas com salários quase simbólicos ou mesmo sem remuneração vale a pena?
Nos Estados Unidos, uma associação nacional de universidades e empregadores realizou uma pesquisa recente que questionou a correlação entre estágios e o emprego efetivo. Os resultados foram surpreendentes. As taxas de contratação para quem tinha aceitado um estágio não remunerado (37%) eram quase as mesmas daqueles que não tinham concluído qualquer estágio (35%). Os alunos que tiveram algum tipo de estágio melhor remunerado, por outro lado, tiveram muito mais chances (63%) de garantir um emprego .
É algo comum nos Estados Unidos a ocorrência de estágios não remunerados (tendência que começa a surgir também no Brasil). Lá, durante a pesquisa, foi ainda mais surpreendente notar o que aconteceu com a fase posterior na vida profissional dos jovens com estágios pagos, não pagos e os que não fizeram estágios. Diz o estudo que aqueles com estágios não remunerados tendem a aceitar empregos de menor pagamento do que os sem qualquer experiência. Os estudantes com estágios melhor remunerados, no entanto, ultrapassaram de longe seus pares, com uma média salarial, no emprego efetivo, de quase o dobro do valor.
Alguns especialistas em carreira defendem que setores muito competitivos podem mesmo se dar ao luxo de oferecer apenas estágios não remunerados, como em moda ou em comunicação. Mas começa a surgir no mercado a real explicação para isso: são setores que estão em baixa de desempenho e é quase impossível, hoje, garantir aos estudantes que, de estagiários, eles passarão a efetivados.
Portanto, o desespero para garantir a “experiência de trabalho”, lembram os especialistas, talvez deva ser mais contida, pensando o que vale mais a pena. Aceitar uma vaga como estagiário de um estilista que não paga nada (só traz a “experiência”) talvez seja menos negócio do que ir trabalhar em uma vaga paralela, como em uma loja, e esperar uma chance melhor remunerada.
É certo que cortar custos, pagando às pessoas o mínimo possível, é uma regra muito em pauta no momento. E, se há gente disposta a trabalhar quase de graça, por que não utilizá-las? Considerando que estagiários são inexperientes e podem estar ali apenas temporariamente, as empresas acabam vendo aí uma forma de tirar vantagem. Exceto as empresas mais inteligentes, que vêm nos estagiários o que eles devem de fato ser: futuros profissionais que, bem treinados, capacitados e ensinados a mostrar valor, tendem a se tornar o alicerce daquela corporação. São esses patrões que o estagiário, segundo a pesquisa, deve procurar.
Rachel Burger, uma norte-americana especialista em relações internacionais e ativista dos jovens no mercado de trabalho global, escreveu um artigo recente sobre o tema. Nele, ela finaliza lembrando à moçada: “Você vale mais do que o ‘trabalho voluntário crônico’. Não caia nessa armadilha de estágio não remunerado ou mal pago”.