por Fefa Costa
Chegar aos 40 anos é um marco na vida de homens e mulheres. A idade simbólica da maturidade também traz consigo um momento de reflexão profissional. No Brasil, 35% da população têm 40 anos ou mais e representa o núcleo forte dos considerados economicamente ativos.
Outro fator de destaque é o aumento da expectativa de vida dos brasileiros para 74 anos. Ou seja, 40 anos ou mais não é o fim! Um profissional motivado, ativo e com experiência tem ainda muitos anos pela frente para contribuir.
O mercado para veteranos acima de 40 anos está aquecido, com uma demanda exigindo qualificação real, experiência e capacidade comprovada de trazer bons resultados.
Segundo Verônica Rodrigues da Conceição, docente da BSP (Business School São Paulo), é grande a importância de se ter estratégias e políticas consistentes de atração, desenvolvimento e retenção de talentos.
Para manter-se atraente profissionalmente, a professora orienta àqueles acima dos 40 anos que tenham uma formação compatível com a função que se dispõem a exercer e, no mínimo, uma formação superior completa, uma pós-graduação ou MBA, além de diversos cursos de aperfeiçoamento.
Mídias sociais
Outro destaque é o domínio das ferramentas tecnológicas. Um bom trânsito e uma imagem profissional nas mídias sociais mais importantes, como Facebook e LinkedIn, somam pontos.
“Saliento também, a capacidade de adaptação a diferentes culturas, de lidar com o novo, a flexibilidade para ouvir, aceitar opiniões divergentes e a disposição de, constantemente, aprender”, diz Verônica.
Para o currículo e entrevistas as orientações são as mesmas que ajudariam qualquer profissional a destacar-se. Demonstrar uma carreira ascendente e o aprendizado adquirido ao longo do tempo, resumindo as realizações mais importantes e os resultados obtidos, no formato SAR (situação, ação, resultado).
“Para os cargos de liderança, é importante pontuar as características consideradas como mais ‘femininas’ ou ‘soft skills’, como sensibilidade, atenção, flexibilidade, preocupação em manter um bom ambiente de trabalho e um bom relacionamento com as pessoas, ouvindo-as, incluindo-as e estimulando-as a trabalhar em equipe. Tudo isso, mantendo o foco na solução dos problemas, na superação das adversidades e no alcance de resultados, objetivos e metas.”
Para quem está atuando ou quer voltar a atuar
Para Fátima Motta, professora dos cursos de férias, MBA e pós-graduação da ESPM, em São Paulo, profissionais seniores estão vivenciando uma fase de melhora significativa no mercado.
“A experiência profissional daqueles com mais de 40 é interessante para os empregadores”, comenta a professora. Ela também aponta que existe espaço no mercado para aqueles que reconhecem suas potencialidades, desenvolvem competências, possuem autoliderança e buscam atualização.
Para quem está sem atuar, a orientação é definir que rumo quer dar à carreira e buscar cursos de curta duração relacionados ao caminho escolhido. “Não volte a ser estudante profissional. Busque seu network, reveja seu currículo e estude negócios. Valorize suas capacidades e desenvolva aquelas que faltam”, aconselha.
Para quem está no mercado, vale se colocar à disposição, não ter o foco apenas em cargos e status e, sim, em empregar sua energia e competências no desenvolvimento geral da empresa.
“Em uma humanidade tão carente de tudo, é impossível não encontrar um trabalho onde suas habilidades façam diferença. Às vezes é preciso dar dois passos para trás para seguir adiante”, finaliza Fátima.
Amor à profissão
51 anos. Este é o tempo que Berinaldo de Souza Lessa, 67 anos, dedica ao Porto de Maceió. Uma paixão antiga e de família: seu avô e pai também trabalharam sobre a mesma plataforma. “Eles me diziam que o porto não dava futuro. Mas eu enxergava um mar de possibilidades”, conta.
Lessa começou como conferente, passou a preposto, fez concurso e foi atuar como técnico portuário. Hoje é responsável pela gestão ambiental do Porto que menos polui no Brasil. “Lidar com questões ambientais é lidar com interesses ambiciosos”, comenta o profissional, que virou referência para os colegas ao administrar conflitos em seu ambiente de trabalho.
Em sua jornada profissional, o veterano destaca o valor das empresas incentivarem a formação e qualificação de seus colaboradores. “Fui muito além do que a minha formação permitiria. Poderia ter ido mais longe se tivesse feito um curso superior de engenharia.”
Tantos anos de janela não cansam Lessa, que não pretende se aposentar tão cedo. “Olhar o mar e o porto me faz feliz. Aqui é minha vida, não me vejo parando de trabalhar. Me aposento de tudo, menos do porto.”
Novos caminhos
Aos 14 anos, Wilson Ferreira de Barros começou a trabalhar como contínuo em jornais de Alagoas e nunca mais saiu da redação. Fez o curso superior de jornalismo com ênfase em design gráfico e atua, ainda hoje, como diagramador.
Aprendeu que para se manter-se atuante, reciclar conhecimentos e práticas é fundamental. Quanto às dificuldades encontradas por profissionais com mais de 40 ao buscarem emprego, Wilson é franco. “Quem está qualificado consegue vagas. É uma verdade nua e crua. É o meu caso. Estou há 50 anos no batente e sempre buscando inovações na minha área. Não é fácil, mas também não é impossível.”
Assim como Lessa, o plano de aposentadoria não faz parte dos próximos passos de Barros. “O profissional não quer mais ficar em casa, parado, esperando a morte chegar. Quer mostrar para a sociedade e para o mercado que está vivo. Quero, sim, viajar e me divertir com a família. Mas parar jamais.”
A disposição de Barros não é apenas para seguir em seu cargo. Encontrou um tempo para, em paralelo, tocar uma parceria em outro projeto: um site de cultura e notícias. “O Alagoas Boreal é um projeto novo, totalmente diferente do que faço no jornal, mas dentro do contexto da comunicação. Mais um caminho para trilhar e aprender.”