Seja sincero: quando falamos em Geração Z no mercado de trabalho, quem vem à sua cabeça?
Provavelmente, você pensou no Lucas Flex Silva, 23 anos. Aquele que largou a faculdade tradicional porque “não tinha fit com a energia dele”, trabalha de pijama, troca de emprego a cada seis meses porque “o job não oferece propósito” e sonha em ser um influencer monetizando um canal no TikTok. Mas, e se eu te apresentar a Ana Carolina Estável? Ela tem 21 anos, é a primeira da família na faculdade, mora na Zona Leste de São Paulo e estuda Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Seu objetivo? Trabalhar com carteira assinada, crescer na empresa e contribuir com a renda familiar.
Qual desses dois perfis é o verdadeiro reflexo da Geração Z brasileira? Se você apostou no Lucas, sinto informar: você errou feio. A Ana é o perfil que representa a maioria da Geração Z no Brasil, uma população de 47 milhões de pessoas.
A grande manchete, segundo uma pesquisa do Instituto Proa (com foco em escolas públicas e periferias), é clara: 75% dos jovens entrevistados desejam construir uma carreira e crescer dentro de uma empresa. Para a maior parte dessa geração, especialmente nas classes C, D e E, a carreira formal não é chata; é o caminho mais seguro para a ascensão social.
Ana é Geração Z: estabilidade e crescimento rápido
Esqueça o estereótipo do jovem que só pensa nas telas. A Ana Carolina e seus pares têm ambições muito mais pragmáticas e necessárias. Eles buscam o que há de mais digno: estabilidade e dignidade. O fator financeiro é inegociável, já que muitos são a “Geração do Aluguel” — cerca de 30,3% dos jovens entre 25 e 29 anos vivem de aluguel. Por isso, eles buscam um pacote completo onde a remuneração competitiva (50,7%) e a flexibilidade (56,2%) andam de mãos dadas. O alto custo de vida torna o salário e os benefícios cruciais, não por ganância, mas por sobrevivência e para ajudar a família.
A Ana tem pressa, sim, mas não para ficar rica do dia para a noite. Sua urgência é por aprender e crescer rapidamente, pois ela sabe que um salário melhor fará diferença no orçamento familiar. Ela busca uma empresa que ofereça oportunidades de desenvolvimento (34%) e mentoria (34%) com caminhos claros de promoção. A famosa alta rotatividade (em que 58% aceitam empregos sem planejar ficar muito tempo) não é capricho; é uma tática pragmática para adquirir experiência rápida e fugir de ambientes tóxicos ou mal remunerados. A Geração Z troca de emprego porque a empresa não está entregando o que prometeu: crescimento e um ambiente de trabalho decente.
A culpa é da gestão ou da Geração?
Se 68% do mercado de trabalho relata dificuldades em lidar com a Geração Z, a reflexão é inevitável: o problema está realmente na geração, ou no modelo de trabalho que insiste em não evoluir? É cômodo rotular o jovem como “fraco”, “imediatista” ou “sem comprometimento” para justificar o alto turnover. Mas, ao olhar para a Ana Estável, a Geração Z é, na verdade, uma força de trabalho altamente pragmática e crítica.
Eles se recusam a repetir o ciclo de esgotamento das gerações anteriores, o que se reflete na prioridade por benefícios focados em saúde mental (41,6%). Quando buscam propósito, querem transparência e coerência nas atitudes da empresa, não um slogan vazio. O jovem não quer trabalhar sem sentido ou de forma exploradora. Seu “imediatismo” é, na realidade, um senso de eficiência e o repúdio a burocracias desnecessárias. Eles querem feedback frequente e autonomia.
A Geração Z já representa um quarto da força de trabalho. Ignorar a sua diversidade e suas necessidades reais, tratando-os como um grupo homogêneo de “Lucas Flex”, é um erro estratégico. O desafio para os líderes não é tentar encaixar a Geração Z em modelos de 30 anos atrás, mas sim adaptar a cultura corporativa para oferecer o que eles realmente querem e precisam: estabilidade financeira, oportunidade de crescimento acelerado e um trabalho que não sacrifique sua saúde mental e seus valores.
Afinal, se a maioria da Geração Z, como a Ana, quer uma carreira formal e estável, o mercado está pronto para oferecê-la com dignidade e transparência?