Você já ouviu falar em capacitismo? De forma resumida, capacitismo é o termo que define a discriminação de pessoas com deficiência (PCDs) e neurodivergentes (NDs).
Não se espante se você nunca ouviu falar dessa palavra.
Infelizmente, ela ainda é pouco conhecida e a maioria das pessoas nem sabe que existe um termo para tratar essa questão, da mesma forma que existem termos específicos para outros tipos de discriminação, como homofobia, racismo, machismo, misoginia, gordofobia, entre outros.
Se isso é uma novidade para você, vale a pena tentar entender o que ele significa e o mal que ele pode fazer às pessoas com deficiência, seja no ambiente de trabalho ou na vida pessoal.
Se você é uma pessoa com deficiência, continue lendo para saber o que fazer se você sofrer capacitismo. Vamos lá?
Neste artigo você verá:
O que é capacitismo?
Sabe quando alguém define uma pessoa com deficiência como “aleijado” ou “inválido”?
Ou quando alguém imagina que uma pessoa com deficiência – apenas por ter uma deficiência – é incapaz de trabalhar ou de ser independente?
Ou ainda quando uma pessoa com deficiência não é escolhida para uma vaga de trabalho porque o escritório da empresa não tem acessibilidade universal? Ou é tratada de forma infantilizada?
Capacitismo, de forma resumida, é esse conjunto de atitudes preconceituosas que discriminam e subestimam a capacidade das pessoas com deficiências apenas pela sua aparência.
Como ocorre o capacitismo no trabalho?
O capacitismo no trabalho pode acontecer de várias maneiras – desde comentários aparentemente inocentes até a discriminação consciente, com intenção de excluir ou ofender.
Isso ocorre principalmente porque muita gente não entende ou não aceita que aqueles que têm deficiência podem atuar profissionalmente como qualquer outra pessoa.
Pessoas com deficiência sabem bem do que estamos falando, ainda que não tenham familiaridade com o termo capacitismo.
“A prática do capacitismo atinge a pessoa com deficiência de diferentes maneiras, desde o acesso ao meio físico até a criação de barreiras para que exerçam atividades independentemente”, afirma a advogada Ellen Fabiana Moreira, da EFM Advocacia.
A advogada afirma que o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015, orienta que as discriminações contra as pessoas com deficiência sejam encaradas como violações de direitos.
Além dele, há também a Lei de Cotas, que garante uma porcentagem mínima de contratação de PCDs em empresas com mais de 100 funcionários.
“Estima-se, no entanto, que do total de 45,6 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência (seja física, visual, intelectual, auditiva, mental, múltipla ou surdo-cegueira), apenas 1% esteja no mercado de trabalho”, diz ela.
Esse dado, na sua opinião, revela que o movimento pela inclusão profissional dessas pessoas ainda precisa evoluir muito para criarmos ambientes de trabalho verdadeiramente inclusivos e acessíveis para a diversidade.
“Por isso é fundamental trabalhar o conceito de capacitismo dentro das organizações, dando mais visibilidade e centralidade ao tema no desenvolvimento de iniciativas com os diversos funcionários, terceiros, fornecedores, clientes, parceiros e comunidade”, diz Ellen.
Como se defender do capacitismo no trabalho?
Sabemos que, infelizmente, o deficiente sofre discriminação desde a seleção para o emprego até a sua adequação ao ambiente de trabalho.
Se ocorrer um caso de capacitismo no trabalho com você, a recomendação da advogada é, primeiramente, colher provas das discriminações e fazer um boletim de ocorrência, preferencialmente uma delegacia direcionada ao deficiente (*).
Seu discriminador pode ser condenado a indenização moral e material.
Além disso, pode ser penalizado com obrigações de fazer, como adequar ambiente de trabalho às suas necessidades e até remanejá-lo ao cargo em que tenha sido impedido de atuar.
“Sugiro que a vítima de capacitismo procure um profissional de Direito para auxiliar a fazer prevalecer seus direitos corrompidos, evitando deixar que essas pessoas não sejam punidas”, recomenda.
(*)Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência em São Paulo – SP. Atende de segunda a sexta-feira, de 9h às 18h – Rua Brigadeiro Tobias, 527 – Térreo – Próximo da Estação Luz do Metrô – Linhas Amarela e Azul – Tel.: (11) 3311-3380/ 3311-3381/3311-3383
Atitudes e expressões capacitistas: conheça e evite
A falta de conhecimento sobre capacitismo faz com que muita gente utilize termos que carregam boas doses de preconceito e discriminação contra PCDs e NDs.
Ou seja, por falta de informação, as pessoas podem ter comportamento capacitista sem nem perceber.
Então, como evitar? Conhecendo alguns termos, expressões e atitudes carregados de preconceito e – claro – tendo mais cautela de agora em diante.
Alguns termos e expressões capacitistas perderam seu sentido original e são usados no dia a dia como sinônimo de pessoas “exageradas”, “distraídas” ou “preguiçosas”, entre outros. Quer ver?
Exemplos de termos capacitistas para evitar para sempre:
- Louco;
- Maluco;
- Retardado;
- Mongol;
- Estúpido;
- Imbecil;
- Surdo-mudo;
- Capenga;
- Bipolar;
- Deformado;
- Sequelado.
Expressões capacitistas que usamos no dia a dia:
- “Cego de raiva.”
- “Dar uma de João sem braço.”
- “Não temos braço para isso.”
- “Desculpa de aleijado é muleta.”
- “Estava só aqui no meu mundinho autista.”
Atitudes capacitistas também podem fazer parte do dia a dia – e isso não significa que alguém não goste de pessoas com deficiência ou que tenha intenção de discriminá-los.
Muitas dessas situações ocorrem porque a pessoa não parou para pensar ou simplesmente porque ninguém nunca chamou a nossa atenção para isso – até agora.
Para evitar que continue acontecendo, vamos observar alguns exemplos.
Você tem uma atitude capacitista quando:
- Fica surpreso porque uma pessoa com deficiência concluiu a graduação (a pós, o doutorado, o pós-doc etc): “É inacreditável que você tenha conseguido isso nas suas condições!”;
- Não entende como ela consegue cuidar dos filhos: “Mas você faz tudo isso sozinho?!”;
- Parabeniza o profissional com deficiência por ter feito um bom trabalho (quando não faria o mesmo por um profissional sem deficiência): “Parabéns, você é surpreendente!”;
- Diz que o PCD parece “tão normal”;
- Se oferece para ajudar quando ele não pediu ajuda;
- Não leva em conta as dores de uma pessoa com deficiência que tenta conversar com você sobre isso e, para tentar animá-la, diz algo do tipo: “Tem gente em situação bem pior…”;
- Dá parabéns para alguém por ter levado uma pessoa com deficiência para um show/ um restaurante/ um jogo de futebol ou… por ter se casado com ela.
Agora que você chegou ao final do post, com toda essa informação, pode pensar melhor antes de repetir qualquer um desses termos, dessas expressões ou dessas atitudes.
Além disso, pode compartilhar a informação com os amigos. Conhecimento é sempre um bom caminho. 🙂
Se você é uma pessoa com deficiência, confira também nosso post Como é o currículo ideal para pessoas com deficiência?.
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