Nos últimos capítulos do remake da novela Vale Tudo, Fatima Acioly, personagem de Bella Campos, ex-influencer, pede um cargo como diretora de arte em uma grande agência de conteúdo. “Você tem formação?”, pergunta o dono da empresa, ao que Fátima responde que não, porque está ultrapassado estudar quatro anos um determinado assunto. Mas tem experiência como influencer e fez alguns cursos online, o que gera um riso quase nervoso do empresário do diretor de arte, este sim, formado e premiado.
Fátima reflete uma parcela da juventude que acredita que faculdade, formação, são coisas do passado. Mas na realidade, o diploma ainda é, sim, imprescindível, mesmo que você queira ser empreendedor ou influencer. Na França, na China, a legislação tem definido que, para ser influencer de determinados assuntos, é preciso sim, provar que você tem qualificação para se posicionar publicamente.
Para ser empreendedor, não há dúvidas: com uma formação acadêmica, você terá muito mais chances de administrar um negócio. É preciso ter conhecimento profundo do produto ou serviço que está oferecendo, compreender o mercado, sua concorrência, público alvo e muitas outras questões, como gestão, tecnologia, inovação, para se posicionar no mercado.
O perigo do discurso ultrapassado e do imediatismo – O pensamento de que a formação formal não é necessária, como o expresso por Fátima Acioly, arrisca a capacidade do profissional de acessar melhores oportunidades em ambientes corporativos que valorizam o conhecimento. O discurso contra a educação é influenciado por dois fatores:
- Extremismo: A internet passa a falsa impressão de que todos os influenciadores são bem-sucedidos. A juventude foca nos extremos e esquece das médias, diz Janaína Feijó, pesquisadora da área de Economia Aplicada da FGV IBRE.
- Imediatismo: Carreiras corporativas não oferecem uma ascensão tão acelerada, desanimando jovens que buscam ganho rápido de dinheiro e prestígio.
O retorno financeiro da educação formal – Ter um diploma de graduação ajuda a ganhar mais. A FGV IBRE analisou a diferença salarial no Brasil entre trabalhadores com ensino superior completo e outros níveis de escolaridade, comparando 2012 e 2024. Em 2012, trabalhadores com faculdade completa ganhavam em média 152% a mais do que aqueles com ensino médio completo ou superior incompleto. Em 2024, essa porcentagem caiu para 126%. Apesar da queda, a diferença é expressiva, pois os graduados recebem mais que o dobro dos que têm apenas o ensino médio completo, segundo a pesquisadora.
A importância da formalidade para a remuneração – A queda no percentual de diferença salarial se explica pelo aumento do acesso ao ensino superior, tornando o diploma “não é um bem tão escasso”, e pela alta da informalidade entre os mais escolarizados. “Não basta você ter o ensino superior, você tem que estar no mercado de trabalho formal para isso poder ter um impacto mais expressivo na sua renda”, afirma Feijó. A conclusão é que ainda é vantajoso ingressar no ensino superior, pois o grau de instrução é um fator relevante na remuneração.
Equipe Vagas