por Heloisa Valente
Você já ouviu falar em holocracia? Modelo de gestão sem hierarquia (sem chefes), na holocracia as pessoas são responsáveis por seus projetos e escolhidas para tais funções de acordo com suas habilidades e aptidões. Aparentemente, um ambiente de trabalho dos sonhos. Certo?
Mais ou menos, explica Denise Poiani Delboni, professora de Relações Trabalhistas e de Direito Empresarial do Trabalho da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ela, duas questões são complexas quando o assunto é vida corporativa sem chefia. A primeira delas é o impacto que isso pode gerar na produtividade e a segunda está relacionada ao status de poder.
“Não é raro encontrar pessoas que só produzem ou têm desempenho melhor quando estão sendo cobradas por seus gestores, supervisores ou chefes diretos. Por isso, em um ambiente onde não há essa figura superior, a produção pode ser prejudicada e impactar diretamente no lucro das empresas”, argumenta.
Também em uma estrutura horizontal, diz ela, a ambição de crescer dentro de uma companhia parece não fazer sentido. “É o que chamamos de síndrome do poder. Na medida em que não há títulos de cargos pode ocorrer desestímulo para aqueles profissionais que almejam postos de liderança, alçando vários degraus em sua trajetória profissional.”
Sucesso e entraves
Denise diz que a holocracia tem sido bem sucedida em empresas da área de TI, onde a maior parte dos colaboradores é da geração Y. “Os jovens são ávidos por novidade e velocidade no ritmo das suas atividades. Normalmente, eles encaram a rotina sem muito pensar no crescimento em determinado local, isso porque, muitas vezes, desempenham suas funções em diversos lugares, sendo responsáveis pela execução e conclusão dos seus trabalhos e projetos”, explica.
Ela afirma que o modelo funciona bem quando os papéis dos colaboradores são claros e definidos. “É como se fosse um trabalho autônomo, onde a remuneração vem ao encontro daquilo que foi produzido. Bônus e prêmios são outras formas de gratificação utilizadas com sucesso nesse tipo de gestão.”
Na opinião dela, um ponto questionável dessa estrutura é a cobrança de horas-extras por parte de funcionários. “O que acontece é que, para entregar tais projetos concluídos em tempo acordado com clientes, fornecedores e a própria empresa, os profissionais usam mais horas do seu dia para cumprir suas metas e isso pode acarretar em passivos trabalhistas para o empregador”, ressalta.
A docente da FGV não vislumbra a estrutura implantada em larga escala no mercado brasileiro. “Um ambiente sem hierarquia pode funcionar em pequenas empresas, mas as grandes companhias não têm essa cultura organizacional desenvolvida. O que vale para os profissionais no Brasil, muitas vezes, é a carreira escalonada em vários cargos de chefia”, comenta.