Foi em meados da década de 90 que a Internet chegou pra valer no Brasil e de lá pra cá muita coisa mudou (na verdade, basicamente tudo).
Com o lançamento das redes sociais, a comunicação passou a ter alcance nível global, tanto “pessoa x pessoa” quanto “pessoa x empresa”. Já com o surgimento dos blogs, internautas passaram a compartilhar suas opiniões sobre os mais diversos aspectos da vida. Com a chegada dos celulares, as ligações perderam sentido e a comunicação falada passou a ser escrita com palavras e emojis. Com os provedores de e-mail, cartas e selos postais deram espaço a conversas por e-mail com “cc” e “bco”. Com a ascensão das plataformas de vídeo, tutoriais nunca foram tão simples de seguir. Com a popularização dos smartphones, qualquer pessoa hoje pode anunciar um furo de reportagem e ganhar destaque na mídia. Enfim, foram tantas mudanças que eu poderia continuar escrevendo por horas!
Se pararmos para refletir sobre as evoluções que aconteceram apenas nessas últimas 2 décadas, é possível perceber que a área da comunicação foi uma das mais afetadas — principalmente quando se fala da empregabilidade no mercado de trabalho. E para aprofundar mais no assunto, conversei com o Pedro Burgos, professor do Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper, sobre como será o comunicador do futuro. Assista a entrevista na íntegra e confira abaixo do player os principais aprendizados.
Neste artigo você verá:
Live: como será o comunicador do futuro
Essa live tem o oferecimento do Insper
Como o declínio dos veículos tradicionais de jornalismo afetam o mercado de trabalho? Há vagas nas redações ainda? Para que tipo de profissional?
Prof. Pedro: Os veículos tradicionais estão buscando se reinventar para sobreviver — e prosperar — na migração dos conteúdos jornalísticos para a internet. Por isso os profissionais que têm mais intimidade com as ferramentas digitais acabam saindo na frente dos demais. Hoje, mesmo em veículos com dificuldades financeiras, há vagas para jornalistas de dados, produtores de podcasts, gerenciadores de audiência, videomakers, especialistas em políticas públicas… São cargos que não existiam alguns anos atrás, são interessantíssimos. Todas as redações buscam profissionais assim, mas não há tanta gente com essa formação no mercado.
Relacionado a isso: e fora delas? Tem crise em agências de comunicação também. Há algum mercado emergente?
Prof. Pedro: As agências também estão em um processo de transformação, já que as marcas, os grandes clientes, estão encontrando novas formas de se comunicar com o público — o que pode ser tudo desde apoiar influenciadores no Instagram a colocar bicicletas pela cidade. Neste cenário, as agências estão em busca de pessoas que vêem a comunicação de maneira mais estratégica, e enxerguem possibilidades de conversa com o público em diversas plataformas.
Tem gente que diz que o novo comunicador precisa programar, outros que precisa fazer vídeo ou podcast? Qual a tendência que vai prevalecer?
Prof. Pedro: Há duas tendências aparentemente antagônicas: há uma demanda por pessoas que tenham um conhecimento, ainda que superficial, de usar muitas ferramentas distintas e ao mesmo tempo o mercado precisa de especialistas, que entendam muito de um determinado assunto. As empresas — sejam elas agências de comunicação, marketing ou redação — precisam ter “generalistas atualizados”: alguém que saiba que determinada história faz mais sentido se for contada em um vídeo, ou em uma série de podcasts, e que consiga encaminhar a produção com um bom briefing. E, ao mesmo tempo, o mercado exige especialistas: alguém que consiga transformar uma reportagem em um aplicativo, um raciocínio em um belo gráfico, etc. As duas tendências devem caminhar juntas, e há espaço no mercado para ambos profissionais.
Quais as habilidades de um comunicador do futuro não estão sendo ensinadas nas faculdades hoje?
Prof. Pedro: Muitas das faculdades ainda estão presas na ideia de que os alunos irão trabalhar em “redações”, grandes empresas com grandes equipes, processos antigos. Ou seja: muito tempo é gasto ensinando algumas técnicas que não são úteis no dia a dia do comunicador digital. Há bastante ênfase em teorias de comunicação e pouca em outras bases teóricas importantes — em economia, direito, ciência política, etc. E por último os cursos de jornalismo têm uma certa aversão a disciplinas relacionadas a tecnologia ou matemática. Neste momento, que buscamos mais integração com plataformas de redes sociais ou o uso de jornalismo de dados, é importante ter uma formação mais multidisciplinar.
E como o Insper está se preparando para atender essa nova demanda?
Prof. Pedro: O currículo da nossa pós-graduação em Comunicação e Jornalismo já simula essa interdisciplinaridade que o mercado começa a exigir. Por exemplo: no primeiro bimestre o aluno terá aulas de economia com o Marcos Lisboa, um dos mais respeitados economistas do país, algo bastante diferente em uma pós em comunicação. Com os conhecimentos daquele curso, ele irá trabalhar pautas usando bases e visualizações de dados, numa outra disciplina. E em “gerenciamento de audiências” o aluno verá métodos e métricas para trabalhar as reportagens que produzir no site que publicar e nas redes sociais. Para tudo isso funcionar bem, o Insper desenhou um curso em tempo integral — outro diferencial —, em que a pessoa ficará um ano absolutamente imersa neste mundo.
E para fecharmos, quais são as 3 dicas de ouro para o Comunicador do Futuro?
Prof. Pedro: A primeira é buscar inspiração e conhecimento em outras profissões e disciplinas. Podemos aprender com economistas, cientistas de computação ou profissionais de marketing técnicas que nos ajudam a melhorar na profissão. A segunda é tentar se atualizar sobre o que está acontecendo fora do país, em termos de inovações e tendências — sites, newsletters e conferências que ajudam nisso. E a última é lembrar que a profissão e o mercado mudaram um bocado, mas as qualidades principais de um bom comunicador — o rigor com a verdade, a curiosidade e a capacidade de explicar diversos temas de forma atraente — continuarão sendo exigidas, e precisam de constante aprimoramento.
Pedro Burgos é jornalista e programador formado pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em Jornalismo Social pela City University of New York. Passou por redações de jornal, como Jornal do Brasil, revistas (Superinteressante), assessorias de imprensa (Sebrae-SP) e foi editor de sites como Gizmodo Brasil. Fundou o Impacto.jor, projeto patrocinado pelo Google para medir o impacto do jornalismo no Brasil e desde 2017 é Knight Fellow do Centro Internacional para o Jornalismo em Washington (EUA). Em 2019 se juntou ao Insper para ajudar a desenhar o Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo, onde dará aulas de Jornalismo de Dados e Gerenciamento de Audiências.
Thayane Fernandes, autora do post, começou sua carreira como recrutadora e se especializou em Marketing e Mídias Digitais. Ela escreve artigos sobre carreira e trabalhou na VAGAS.com entre 2013-2019.