Por Fefa Costa
Fotos de Rogério Montenegro
Em 2013, o relatório Panorama Laboral da América Latina e do Caribe, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apontou que as mulheres compõe 50%, em media, da força de trabalho na região.
No Brasil, diz o relatório, 49,3% das vagas de trabalho são ocupadas pelo sexo feminino. Apesar desta participação, o estudo indica que a taxa de desemprego das mulheres é 35% maior do que a dos homens, e um dos componentes para a formação deste cenário é a dificuldade em conciliar a vida pessoal e familiar com a carreira.
A forte cobrança, pública e privada, para cuidar do filho e do emprego ao mesmo tempo e com igual dedicação, é a maior preocupação da mulher na busca por uma vaga ou na estabilidade em um cargo conquistado – isso sem contar a culpa que persegue a mãe/profissional quando ela não consegue contemplar uma das duas faces dessa intensa dinâmica com sucesso.
Um estudo da FEA-USP mostra que trabalhadoras com filhos pequenos têm em média, no Brasil, salário 27% menor que o de suas colegas sem filhos. Essa inexplicável diferença resulta em outro dado: algumas profissionais encontram no empreendedorismo a solução para este dilema. Uma pesquisa do SPC Brasil e do CNDL aponta que 45% das empresas individuais são chefiadas por mulheres.
Essa, porém, não pode ser a única solução, e cresce o número de avanços no mercado para aquelas que optam por uma carreira dentro de uma empresa ou mesmo no mundo coorporativo.
Planejar e compartilhar responsabilidades
Para Danielle Wolff, CEO do CEDUC, empresa especializada na criação e gestão de creches corporativas, o objetivo é garantir às mães a possibilidade de manter a carreira e a atuação no mundo corporativo, com tranquilidade e produtividade.
Para a psicóloga, empresas que mantém um número considerável de mulheres em seu quadro de colaboradores buscam formas mais equilibradas na relação “família – trabalho”, afinal estar próxima dos filhos é uma preocupação de muitas mães. A empresa que se mostrar aberta a esse tema promove um desvio menor no foco das atividades profissionais e na matemática da administração do tempo de suas funcionárias.
“A mulher tem, em sua jornada diária, tarefas diferentes dos homens. Por isso, tem que estar consciente do tempo que dedica a cada uma delas”, comenta Wolff.
Danielle também orienta, quando possível, para que as profissionais façam um planejamento pensando no melhor momento da maternidade. Planejamento e uma estrutura sólida de apoio em casa fazem toda diferença.
“Compartilhe a educação. Dificilmente uma pessoa que trabalha oito horas por dia conseguirá ser 100% responsável por tudo que envolva seu filho. Administre sua ausência e esteja presente nos momentos importantes”, orienta Danielle.
A psicóloga aposta na relação com a empresa para que muitas mulheres não vejam na maternidade um obstáculo para a carreira, muito menos o contrário. O intento é priorizar a produtividade, como buscam os empregadores, e humanizar a relação com o trabalho.
“A felicidade da mulher está em não precisar escolher entre filhos ou carreira. Poder ter um, ou os dois, é um direito dela.”
A construção da maternidade e da paternidade
Para a apresentadora de telejornal Joyce Ribeiro, a chegada de Maria Luisa teve que ser planejada. Foram seis anos à espera do melhor momento para maternidade.
A jornalista confessa que, muitas vezes, pensou em antecipar os planos. Mas construir uma carreira sólida exigiria dedicação total, que seria incompatível com a chegada de um filho.
Joyce queria sentir-se segura para a chegada da filhota e destaca a participação do marido na realização de seu sonho. Contar com essa parceria fez bem e fortaleceu os laços do casal.
“A ajuda dele na criação da Malú é fundamental. Quando o pai participa, todos ganham. Vejo que ele também se descobriu com a paternidade. Hoje os homens tem um papel diferente na família”, opina.
Mesmo com todo planejamento, situações inesperadas acontecem, e ter tranquilidade é fundamental. “Ter uma pessoa de confiança em casa e meu marido sendo pleno e feliz em sua paternidade fizeram com que eu tivesse tranquilidade para ser uma mãe presente e uma profissional capaz.”
Malú está com 1 ano e meio, adora ver a mãe na TV. “Ela ri muito quando me vê na tela. Isso é uma vitória para todos nós”.
Profissional, mãe, esposa e você mesma
Calima Jabur é formada em Dança e atua na reeducação do movimento e na terapia corporal. Mãe de Isadora, de 11 anos, e Benjamim, de 4, ela se diz que se sentiu mais completa em suas funções profissionais e pessoais quando descobriu a confiança em sua própria capacidade.
“Pude buscar oportunidades melhores. Hoje, quando digo que não poderei dar uma aula porque um dos meus filhos está doente e precisando de mim, todos entendem. Quem não entende não me interessa como cliente.”
Ao descobrir a segunda gravidez, Calima estava há três meses em uma escola, uma situação que, para muitas mulheres, é delicada e exige jogo de cintura e muito diálogo.
“Fiquei constrangida no começo e me abri com eles. Foi péssimo. Não estava preocupada comigo, pois sempre foi tranquilo trabalhar durante toda a gestação. Mas eles não reagiram bem”, relembra.
Muitas empresas não sabem lidar com a gravidez e a maternidade de suas colaboradoras, e algumas chegam ao extremo de pedir, arbitrariamente, teste de gravidez antes da contratação. Ser franca é sempre a melhor escolha.
O fato de a candidata estar, ou não, grávida, não poderá ser considerado como critério para a contratação. Assim, não deveria haver prejuízos em compartilhar tal informação. Entretanto, na prática, sabe-se que, caso ela fale, corre o risco de não ser contratada, sob um argumento qualquer, não relativo à gravidez.
Calima deu a volta por cima, deixou a escola e encontrou caminhos mais felizes e prósperos para o seu trabalho e, principalmente, para sua família.
“Não abro mão de colocar meu filho para dormir, senti-los e entender suas demandas. Mas busco um momento para mim também. Sofri muito por não ter tempo para estudar ou fazer outras tarefas. Mas hoje me conforto com que conquistei.”
Ser mãe, profissional e esposa exige muito tempo e energia. Mas, por outro lado, promove em sua rotina momentos para buscar – em um contato intimo na execução de algo que te faça bem – a energia para dar conta dos outros aspectos da vida.
Abraçar as oportunidades
Tania Carvalho trabalha no setor administrativo financeiro da VAGAS. Mãe de Nycole e Enzo, de 12 e 8 anos, respectivamente, ela tem a maternidade como algo que a tornou mais feliz.
“Planejar uma família pede otimismo sem perder o pé na realidade.”, comenta.
Durante um ano, Tânia viveu entre Rio de Janeiro e São Paulo. A aventura começou quando seu marido recebeu uma proposta importante de trabalho em outra cidade. Na cidade maravilhosa estavam seus filhos e marido. Em São Paulo, sua carreira e seu trabalho.
Um ponto que facilitou sua jornada foi a proposta de home office por parte da empresa, permitindo que a administradora financeira ficasse três dias no escritório e outros dois dias trabalhando em casa.
Quando estava em São Paulo, Tania cuidava dos filhos por skype e contava com a ajuda de uma secretária de lar de extrema confiança. Quando estava no Rio, contava com a confiança de sua equipe e com o senso de responsabilidade para dar conta de todos os compromissos sem deixar ninguém na mão.
“Foi um ano intenso. O lado positivo foi que meu marido sentiu a importância da minha presença.”
Tânia defende que uma mulher não precisa abrir mão de sua carreira para ter filhos, pois a felicidade está em se dedicar as duas funções. “Meus filhos percebem que sou feliz com minha carreira. Minha filha diz que, quando crescer, quer trabalhar no mesmo lugar que eu trabalho. Fico feliz por isso.”
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