Foi-se o tempo em que tatuagem era sinônimo de transgressão. Hoje em dia, é difícil encontrar alguém que não tenha ao menos um desenho pelo corpo. Vale tudo, de uma estrelinha para representar o nascimento do filho a um São Jorge com seu cavalo e lança, representando proteção. Ainda assim, muita gente não sabe se deve ostentar a tatuagem no ambiente de trabalho, ou se o melhor é se resguardar e usar algum truque para escondê-la.
“Nesse caso, o que vale é o bom senso do colaborador. Ele deve avaliar se no ambiente em que ele atua uma tatuagem será vista de forma normal ou se, ao contrário, for um local mais conservador, pode ser mal vista”, diz o diretor da Gárbor RH, Ricardo Karpat.
Ele lembra que em locais onde se trabalha com criação, como publicidade, TV e internet, a tatuagem é quase um item obrigatório, pois praticamente todos os funcionários têm. “Já em um local mais tradicional, como um banco ou um escritório de advocacia, alguns empregadores podem sim achar estranho, mas por puro preconceito”, afirma Karpat.
Para evitar constrangimentos
Foi para evitar esse tipo de constrangimento e mesmo aquele olhar enviesado que a assessora de imprensa Danielle Pessanha optou por camuflar as 12 tatuagens que tem espalhadas pelo corpo. Ela trabalha na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), uma das mais tradicionais associações do País, e atende diretamente o presidente da entidade, além de conviver com muitos diretores e convidados extremamente conservadores. “Achei por bem esconder as minhas tatuagens. Não que alguém tenha me pedido ou por achar que isso atrapalharia minha função, mas simplesmente por considerar que, por ser um local mais formal, elas poderiam chamar mais atenção do que o meu trabalho”, diz ela.
Apaixonada por tatuagens, Danielle conta que cada desenho tem alguma relação com a sua vida. A primeira foi uma borboleta, quando ela ainda tinha 16 anos. “Representou a minha independência e liberdade. Eu trabalho desde os 13 anos, mas foi com 16 que consegui de fato me manter com meu salário, sem precisar mais pedir ajuda aos meus pais.” A borboleta ganhou a companhia de outras 11 ao longo dos últimos 11 anos. A mais recente – e que ela garante ser a última, embora tenha feito a mesma promessa para a mãe quando chegou na sexta – é a mão de Fátima no antebraço, que ela esconde usando sempre camisas de manga longa ou um blazer nas horas de encontros com o chefe.
Camuflando desenhos com pulseiras
“As do pulso camuflo com o relógio e pulseiras. As da batata da perna são ajudadas pelo fato de eu sempre usar calças compridas ou vestidos longos. As únicas que ficam visíveis são as do peito do pé. Mas ali também, quase ninguém presta atenção”, garante a jornalista.
Na opinião de Karpat, esconder pode ser a melhor opção em um ambiente como esse, bastante conservador. “Normalmente em áreas administrativas é mais incomum ver pessoas ostentando a tatuagem, mas não quer dizer que ela não exista. Ela pode estar ali, escondida por trás da camisa ou do vestido. Mas são nesses ambientes em que existe mais preconceito, não uma política de Recursos Humanos que proíba tatuagem visível”, diz.
Diversidade deve ser valorizada
Opinião semelhante tem o sócio da Odgers Berndtson Brasil, João Paulo Camargo. “Vivemos no mundo onde a diversidade é valorizada e o tema tatuagem deixou há muito de ser tabu. Ter o corpo desenhado não vai excluir um executivo de uma vaga, por exemplo, ou dificultar futuras promoções. Ainda assim, em uma entrevista inicial, acho recomendável esconder o desenho se for muito grande para evitar ser vítima de preconceito. Pois de modo geral, as empresas não escolhem um ou outro candidato pela aparência, mas pela competência. Porém, o preconceito existe e é melhor não arriscar”, diz o executivo, cuja consultoria tem justamente a função de ajudar as empresas na busca pelos melhores executivos – com ou sem tatuagens.
Ele recomenda ainda, que numa entrevista inicial o candidato estude a empresa para saber qual é a cultura corporativa e optar pelo melhor posicionamento. “Estudar a empresa deveria ser uma prática adotada por todo candidato a emprego. Isso evita gafes e ajuda até na entrevista, pois a pessoa está mais preparada por entender o que a empresa procura e como se portar para se sair bem. A partir disso já é possível decidir se vale ou não a pena deixar a tatuagem à vista. Esconder, nesse caso, não é má-fé, mas uma adequação ao ambiente.”