Por Lucia Helena Corrêa
A lei de mercado mais implacável – a da oferta e procura – se aplica 100% à indústria de petróleo e gás: se falta mão de obra qualificada, os salários explodem. A consultoria Hay Group calcula que a política de benefícios já inclua salários 50% a 70% maiores do que os pagos em outros setores da indústria em geral.
Na verdade, o que torna o setor de petróleo e gás tão atraente, além do glamour de pertencer a uma verdadeira casta de profissionais notáveis, são os generosos salários. Variam de R$ 2 mil (para os profissionais de suporte, sem muita especialização) até R$ 50 mil (para os engenheiros supergraduados, especialistas em áreas específicas e complexas do processo industrial).
Profissionais estrangeiros “importados” com a família alcançam remuneração de até R$ 100 mil, sem adicionar benefícios. Eles chegam para cargos sênior ou com a missão de transmitir know-how às equipes brasileiras e ajudar na formação dos quadros nacionais.
Mas especialistas em profissionais de alta qualificação dizem que esse não é o único fenômeno decorrente da demanda. Segundo a consultoria RHIOS registra, existe uma “boa vontade incomum” na contratação de pessoas com idade superior a 45 anos, supostamente mais experientes e prontas para ocupar cargos considerados estratégicos na cadeia industrial.
Maior a carência, melhor o salário
Segundo a coordenadora do Núcleo de Energia da FGV in company, Goret Pereira Paulo, o setor precisa de profissionais qualificados em diversos segmentos, mas quatro deles são críticos, devido à natureza do negócio: Análise de risco, Finanças, Logística e Planejamento.
“De uma maneira geral, faltam engenheiros e mais ainda: engenheiros com conhecimento de gestão, uma das principais reclamações das empresas. O mercado também está carente de mão de obra especializada em gestão de projetos, regulação, meio ambiente, apoio offshore, processamento e refino, distribuição e revenda.”
Para o professor da Coppe/UFRJ, Oscar Rosa Matos, a falta é, igualmente, de especialistas no desenvolvimento de equipamentos para operação em águas profundas, à prova de corrosão.
Denise Retamal, diretora da consultoria RHIOS, observa:
“É importante, porém, sublinhar que as folhas de pagamento milionárias não são propriamente resultado da falta de candidatos, mas, sim, da virtual escassez de talentos, de profissionais realmente preparados, embora o número deles, dependendo da área, seja impressionante.”
Entretanto, se de um lado os jovens engenheiros recém-formados começam a entender a duras penas que não bastam os diplomas, da graduação ao MBA, as empresas já percebem que outros benefícios além da remuneração são igualmente ou mais importantes para reter os talentos. Glaucy Bocci, gerente de Negócios da consultoria Hay Group, enumera alguns exemplos:
“As oportunidades de crescimento, qualidade no trabalho, ambiente estimulante e equilíbrio entre vida profissional e pessoal.”
No esforço para reter profissionais e atrair novos candidatos, as organizações embalam no pacote de benefícios. Podem ser programas especiais como coaching e combate ao estresse, reembolsos para cursos de idiomas, bônus extra conforme o desempenho, diz Adriano Bravo, CEO da Petra Executive Search. O executivo faz sucesso com as palestras nas quais dá dicas a profissionais interessados em ingressar no especializadíssimo e generoso setor de petróleo e gás.
Investimento no ambiente de trabalho
As organizações também têm investido em melhorias de conforto das instalações offshore, planos de carreira e programas de treinamento detalhados, bem como no auxílio às famílias de profissionais embarcados ou no exterior, conta Bravo. A despeito de todas as vantagens, confessa que nem sempre consegue atender às expectativas de empresas do setor que buscam profissionais qualificados e experientes. “Os poucos profissionais qualificados disponíveis no mercado já estão empregados e exigem altos salários para mudar de empresa”, diz.
Na tentativa de suprir a demanda, a consultoria tem ido buscar técnicos em outras indústrias, tais como a automotiva e a metalúrgica, além de recorrer à contratação de profissionais com mais de cinco anos de experiência em países vizinhos, como Argentina e Chile.
O irresistível apelo dos grandes salários pagos pela indústria de petróleo e gás elevou a quase 180 mil o número de inscritos no último concurso da Petrobras para cargos de níveis médio e superior, com remuneração mensal média superior a R$ 6 mil.