por Marcus Lopes
Há muito tempo não escutamos mais o “tec, tec, tec” das máquinas de escrever ou o freio do bonde. Junto com muitos aparelhos e meios de transporte que foram substituídos por novas tecnologias, também foram embora diversas profissões, que hoje estão apenas na lembrança dos mais velhos.
Datilógrafo, acendedor de lampiões e motorneiro de bonde são alguns exemplos de profissões extintas. Quando a iluminação pública surgiu, no século 19, um personagem passou a ser visto todas as noites nas ruas das cidades: o acendedor de lampiões. Sem ele, o sistema não funcionava, pois era necessário acender cada um dos lampiões nos postes. Com a chegada da iluminação elétrica, no século 20, os lampiões ficaram obsoletos e, com eles, o acendedor de lampiões. O mesmo ocorreu com o fim dos bondes, que acabou com os motorneiros (condutores) dos veículos.
Outra profissão que durou muito tempo foi o datilógrafo. Em praticamente todas as empresas do século 20 era comum chegar ao escritório seguindo o barulho das máquinas de escrever. Um dos requisitos básicos em muitas funções, como secretária, era saber datilografar. Para isso, existia outro profissional, também extinto: o professor de datilografia.
“O desaparecimento de profissões é um indicativo do desenvolvimento tecnológico das sociedades. E, assim como algumas desaparecem, outras surgem para responder às necessidades geradas por esse mesmo desenvolvimento”, diz o historiador e professor do Anglo Vestibulares, Jucenir Rocha. “Cabe ao historiador acompanhar essas mudanças e as consequências nas relações trabalhistas, também em contínua evolução”, completa.
A extinção e criação de carreiras nos leva a refletir sobre nossa própria escolha profissional. Quem nunca se perguntou, em algum momento, se a atividade que exercemos vai existir daqui a alguns anos? Uma das profissões que estão na mira da modernidade é a de carteiro. “Pela forma como a informatização dos meios de comunicação vem se desenvolvendo e pela maior facilidade que as pessoas têm em recorrer à comunicação direta e mais rápida, a atividade do carteiro tende a desaparecer”, diz Rocha. “O que, seguramente, deixará cheia de nostalgia toda gente que conheceu a ansiedade pela chegada das palavras escritas de próprio punho e separadas por grandes distâncias”, completa.
Outras atividades que estariam com os dias contados seriam as dos cobradores de ônibus (com o bilhete eletrônico), livreiros e até dos professores, já que os alunos poderiam aprender através de recursos tecnológicos que dispensariam a presença física do professor, e do próprio aluno, na sala de aula.
A criação e a extinção de profissões têm consequências na própria sociedade e nas relações trabalhistas. “Se por um lado as novas tecnologias poderiam permitir aos indivíduos dedicar menos tempo ao trabalho e vivenciarem melhor a vida, por outro o que se vê é a intensificação da exploração do trabalho e a flexibilização dos direitos trabalhistas conquistados no passado, em detrimento da qualidade de vida de amplas parcelas da população.”