Por Kety Shapazian
Fotos de Ailton de Oliveira
Após enfrentarem uma viagem de ônibus que durou 15 horas, desde Goiânia (GO), os estudantes de engenharia da computação Thales Augusto e Eduardo Oliveira e Silva, ambos de 19 anos, chegaram à capital paulista para participar pela primeira vez da Campus Party, maior encontro de inovação tecnológica da América Latina. Novatos como campuseiros – participantes que acampam durante toda a programação no local do evento –, eles gostaram tanto que já avisaram: vão voltar nos anos seguintes.
“Viemos em dois ônibus, cerca de 90 alunos da UFG (Universidade Federal de Goiás)”, diz Augusto, que adora games, mas não se considera um nerd. “Se me perguntarem se sei tudo sobre Star Wars, eu não sei. Mas entendo muito de games. O suficiente para gerar uma boa discussão.”
Silva diz que as pessoas acabam o rotulando de nerd porque ele não gosta muito de sair. Alunos do 5° semestre, os dois não se decidiram ainda em qual área vão trabalhar. Silva se interessa por robótica, enquanto Augusto não descarta a possibilidade de trabalhar com jogos. Só sabem que talvez tenham de sair de Goiás atrás de oportunidades.
“O mercado de trabalho no estado não é muito bom. Teríamos que nos mudar para o sudeste, Rio ou São Paulo, ou sul. Porto Alegre oferece mais chances de carreiras”, comenta Silva.
Games à parte, a sétima edição da Campus Party Brasil, que termina neste domingo, dia 2, está com enfoque na criação de negócios de tecnologia. Tanto que cerca de 10% do espaço, no Anhembi Parque, foi destinado a 300 start-ups. Essas empresas iniciantes estão em busca de investidores e parceiros, atrás de maior divulgação dos seus projetos ou até apresentando aplicativos que tratam de transporte público a prevenção de desastres naturais.
Peterson Kolling, da start-up Vida Fácil, empresa catarinense de serviço de comida congelada por assinatura e que atua em Camboriú, Itajaí e Florianópolis, está à procura de investidores para começar a operar em São Paulo. “Trabalhamos em cima de validações. Não é fácil vender uma assinatura, ainda mais de um produto que as pessoas não conhecem ainda.”
San Pedro Valley – Luiz Temponi e Thiago Cardoso, de Belo Horizonte (MG), são co-fundadores da Zahpee, plataforma para monitoramento de dados nas redes sociais. “O nosso forte é automatizar o processo de análise utilizando inteligência artificial de forma rápida e precisa”, explica Temponi.
“Não é só coletar dados. Isso, na verdade, é o mais fácil. O nosso trabalho é processar toda a informação. Para isso, contamos com recursos de monitoramento em qualquer idioma, análise automática de posts nas redes sociais e segmentação por assunto.”
A Zahpee é uma das mais de 150 start-ups que surgiram no Vale do Silício brasileiro: o San Pedro Valley, uma comunidade colaborativa que nasceu no bairro São Pedro, em Belo Horizonte. O nome, uma brincadeira com o primo bilionário na Califórnia (EUA), é hoje referência para empresas de base tecnológica.
Entre os palestrantes, a principal estrela até agora foi Bruce Dickinson, vocalista da banda Iron Maiden. Piloto de aeronaves, Dickinson veio a São Paulo falar sobre seu lado empreendedor – ele é dono de uma escola de formação de pilotos e de uma empresa de manutenção de aviões.
Visitantes que não conseguiram comprar ingresso podem entrar na Open Campus, a área gratuita da Campus Party. É lá que fica a área das start-ups. Também ali está um dos estandes que mais faz sucesso, o da Intel. Pela terceira vez participando do encontro, a marca atrai gamers, geeks, nerds e uma gama de curiosos em torno de partidas de jogos eletrônicos que contam até com narradores, como qualquer outro esporte televisivo.
Foi lá que encontramos Juliana Alencar, 19, compenetrada acompanhando uma partida de Starcraft II. O negócio é tão sério que uma marca de energéticos trouxe campeões sul-coreanos para competir na Campus Party. Os jogadores ficam isolados em duas cabines, olhos grudados no computador, enquanto a plateia acompanha cada (rápido) movimento numa tela gigante. Juliana, aluna de engenharia aeroespacial da UFABC, a Universidade Federal do ABC, carregava um baneling, um tatu-bola de pelúcia que é personagem do Starcraft II. Mas engana-se quem acha que a menina está para brincadeira.
“Quero trabalhar com satélites de comunicação. É uma área que está com falta de profissionais. Por isso que as empresas brasileiras contratam muitos estrangeiros, principalmente europeus.”
Em outra fileira, também acompanhando o campeonato, estava Mario Silvio, destoando do resto da plateia jovem. Aos 63, aposentado após trabalhar 32 anos com processamento de dados, ele foi à Campus Party para “ver como andam as coisas”.
“O mercado tem uma demanda enorme por profissionais qualificados. Aliás, você até acha profissional, mas não qualificado. A maioria dos jovens nem sabe que existe esse campo de trabalho no Brasil. Falta incentivo e divulgação”, diz.
Na outra ponta da linha do tempo, Gabriel Rocha Santos, 10, não estava nem aí para os games. Sentado a uma mesa ao lado da tia, Rosa da Rocha Simão, ele formulava as perguntas que faria a um dos jogadores convidados. O menino é integrante do Imprensa Jovem, projeto da Prefeitura de São Paulo no qual o aluno é quem dá o recado, fazendo circular a informação na escola onde estuda.
“No ano passado, eu entrevistei o Secretário de Segurança de São Paulo”, contou, orgulhoso. Quando crescer, no entanto, Gabriel quer ser mesmo é advogado.
Serviço
Anhembi Parque: Avenida Olavo Fontoura, 1.209, Santana. Entrada gratuita para o Open Campus pelo portão 17. Telefone: 2226-0400.